Nesta semana, o Cepai (Centro Psíquico da Adolescência e da Infância) e o CMT (Centro Mineiro de Toxicomania), receberam visitas especiais. Profissionais franceses de diferentes áreas, que têm em comum o trabalho com crianças e jovens no país de origem, puderam expor seus conhecimentos e dividir suas experiências com servidores, estudantes e outros interessados, em dois momentos enriquecedores para os presentes. Os eventos contaram também com a presença de diretores das unidades de saúde mental da Fhemig e equipes de CAPS e Cersams.
No dia 29 de agosto (terça-feira), o psicanalista Philippe Lacadée, especialista em infância, adolescência, e educação, compareceu ao Cepai para discutir o caso clínico de um paciente da unidade, que se encontra em regime de permanência-dia. Durante a conversação, ele esteve acompanhado da equipe assistencial do Centro. “Foi uma oportunidade extremamente importante e proveitosa para os profissionais do Cepai e os convidados”, afirma a coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa (NEP), Denise Fidélis de Araújo.
Já no dia 30 de agosto (quarta-feira), foi a vez de o CMT inaugurar o Observatório do Contemporâneo – OCO, com uma roda de conversas que contou com a presença da equipe da Sauvegarde (proteção) da infância e adolescência, um grupo engajado no trabalho de acolhimento e prevenção da radicalização de jovens pelo Estado Islâmico na França. A atividade fez parte da comemoração de 34 anos do CMT, e teve o apoio do Observatório da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina-UFMG. Segundo a diretora Daniela Dinardi, pode-se associar o problema da radicalização dos jovens na França, à vulnerabilidade social das minorias no Brasil, que têm se tornado “invisíveis” perante a sociedade e a mídia. “O Observatório do Contemporâneo surge a partir de estudos que temos feito e fenômenos que estamos observando. Vamos escutar as experiências do grupo hoje, e analisar como podemos aplicá-las na realidade do Brasil”, comentou.
Na ocasião, o sociológo Saïd Bouamama, um dos integrantes do grupo, avaliou a importância de se sair das certezas, e de se interrogar as teorias usadas hoje no trabalho com os jovens. “Existe atualmente uma enorme mutação nos conceitos de jovem/adolescente/criança. As definições estão ultrapassadas”, afirmou o profissional. Segundo Zohra Harrach, diretora de uma associação de proteção à criança e o adolescente, "é preciso questionar nossas práticas profissionais, e investigar os fenômenos de diferentes pontos de vista, como o sociológico e antropológico, para compreender que fatores levam um jovem a praticar o extremismo, e se envolver em um processo que leva à morte certa”, disse, ao fazer uma comparação entre a toxicomania e a radicalidade.