Uma semana após o início da inundação que atingiu Betim, na primeira semana do ano, a situação está sob controle na Casa de Santa Izabel (CSSI), da Rede Fhemig, conforme constatou, ontem (9), em sua visita, o presidente Antônio Carlos de Barros Martins.
Na segunda-feira (2), diante do alerta de que o nível do rio Paraopeba iria subir, a direção da CSSI iniciou o trabalho de remoção dos pacientes e moradores que estavam em casas sujeitas a alagamento, transferindo-os para outros prédios da unidade. “A Defesa Civil avisou que viria um volume muito grande de água. Fomos um dos primeiros da rua a sair de casa”, informou a dona de casa Fernanda Oliveira, que teve parte da residência inundada.
Na quarta-feira (4), houve nova retirada de pacientes, desta vez da Unidade Assistencial Gustavo Capanema, com encaminhamento para o espaço do Núcleo de Ensino e Pesquisa. O diretor da unidade, Shigeru Ricardo Sekya, afirma que não foram registrados danos expressivos, pois houve tempo e apoio para a retirada das pessoas e dos equipamentos.
Os objetos pertencentes às famílias também foram retirados, com o uso de caminhões enviados pelo Serviço de Transportes da Fhemig. Todos os pacientes encontram-se alojados e recebem os cuidados médicos necessários. Além disso, todos os pacientes e funcionários que foram expostos ao risco de contaminação e que não estiverem com as vacinas em dia, serão imunizados. “Não houve danos aos pacientes e os funcionários foram muito solidários”, informa o diretor, que salientou ainda o apoio recebido de toda a equipe do hospital, bem como da Gerência de Infraestrutura e da Diretoria Assistencial da Administração Central da Fundação.
Os imóveis afetados foram lavados após o nível da água baixar, na sexta-feira (6), a fim de evitar contaminações. A Defesa Civil e a prefeitura enviaram caminhões pipa com equipamento de alta pressão para auxiliar na higienização, além disso, a Fhemig forneceu rodos, vassouras e hipoclorito de sódio aos moradores.
Tendo em vista que, em decorrência da inundação, o edifício que abriga a Unidade Assistencial Gustavo Capanema foi esvaziado, a sua revitalização, já prevista no orçamento da Fhemig, foi antecipada. “É bom que os pacientes vão encontrar tudo bem arrumado quando voltarem”, disse Antônio Carlos de Barros Martins, que percorreu a unidade e verificou que todas as providências estão sendo tomadas para o restabelecimento da normalidade.
Vitória da solidariedade e da união. Esse foi o saldo positivo que ficou em Santa Izabel, após os momentos difíceis vividos pela comunidade. O gerente administrativo, Marco Antônio da Mata, afirma que todos os servidores se envolveram no socorro às vítimas, inclusive os coveiros da MGS. “Motoristas, pintores, pedreiros, todo o pessoal deu muito apoio; a situação envolveu todo mundo”, enfatizou. Mas um personagem se destaca nesse episódio e todos são unânimes ao salientar a sua atuação: o “incansável” Cochicho. O apelido vem do nome de uma ave, e ele parece mesmo ter asas, pois consegue estar em vários lugares em pouco tempo. O Cochicho tem muita iniciativa, resolve tudo na hora”, afirma Marco Antônio.
Muitas vezes, é nas tragédias que os heróis se revelam. O encarregado de obras de Santa Izabel, conhecido por todos como Cochicho, trabalhou, sem dormir, durante três dias, retirando as pessoas das casas inundadas. Pai de três meninas e avô de outras duas, ele conta que saiu de sua casa na segunda-feira (2) de manhã e só voltou na quinta (5) à tarde; mas à noite já estava de volta ao trabalho. “Ele foi o herói da enchente”, garantiu o diretor Shigeru Ricardo Sekya. Cerca de 30 famílias e 70 desabrigados receberam seu auxílio.
Mas Cochicho faz questão de reconhecer o trabalho de seus colegas de equipe, em especial Danilo Antônio, José Teodoro e Evandro Silvano, que estavam de férias e retornaram para ajudar. “Foi muita correria”, disse. Ele lembra que até as enfermeiras contribuíram e destaca a dedicação do companheiro José Vicente de Souza (o Goiaba), que mora em Ribeirão das Neves e está há dois fins de semana sem voltar para casa. “Toda hora que preciso deles, eles estão aqui”, elogia.
Cochicho, cujo verdadeiro nome, Adivildete Alves da Silva, só é conhecido pelo Serviço de Pessoal, chegou em Santa Izabel com 4 anos de idade. O avô foi trazido à força de Santa Fé de Minas, após contrair hanseníase, em 1971, e ele veio em seguida com a família. Sua relação com a Casa de Saúde é de afeto, por isso se dedica tanto ao trabalho. “Praticamente adotei esses pacientes, aprendi a gostar muito deles. Pra mim eles são tudo e estão muito carentes, então a gente tem que dar um pouco de carinho pra eles”, recomenda.
Esta não foi a primeira vez que o servidor mostrou seu empenho em hora de dificuldades. Em 1997, quando uma enchente ainda maior atingiu a região, Cochicho trabalhava na Fiat, e mesmo assim ficou quatro dias ajudando em Santa Izabel. Ele comemora a ausência de vítimas neste ano, graças ao monitoramento constante e ao trabalho dos voluntários.