O traumatismo raquimedular (TRM) representa uma situação em que há fratura da coluna, com lesão da medula, geralmente acarretando alterações temporárias ou permanentes na função motora, autonômica ou em relação à sensibilidade. O paciente com TRM pode ainda apresentar déficit neurológico como sequela.
As lesões frequentemente causam diminuição permanente da qualidade de vida, podendo levar o paciente a quadros de paraplegia e tetraplegia. A maior incidência de traumatismo raquimedular ocorre em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino.
O TRM costuma estar relacionado a acidentes como queda de altura, mergulho em águas rasas e ferimentos por arma de fogo. Mas a maior parte dos casos ainda está associada a acidentes automobilísticos, principalmente envolvendo alta velocidade.
Os números de casos de TRM em acidentes com moto também têm crescido. De acordo com o coordenador do Serviço de Neurocirurgia do HJXXIII, Rodrigo Faleiro, essas fraturas estão se tornando comuns pelo fato da moto ser um veículo que oferece pouca proteção ao condutor. “Frequentemente, os motociclistas desenvolvem alta velocidade. E o TRM está bastante associado a acidentes com aceleração e desaceleração súbita. Nesses casos, a coluna cervical é um alvo frequente de lesão”, afirma.
O Hospital João XXIII é referência em Minas Gerais no tratamento a pacientes vítimas de TRM. “Recebemos um paciente por dia com traumatismo raquimedular. Em um levantamento que fizemos de julho de 2012 a julho de 2013, de 538 TRM’s, 90 deles eram por acidentes de moto. Ou seja, quase 17%. Quando se acrescenta os relacionados a acidentes automobilísticos e atropelamentos, esse número cresce para 41%”, explica o neurocirurgião.
Desse total de pacientes atendidos por ano, 40% vão ter comprometimento neurológico, sendo 20% com lesões irreversíveis. Além de sequelas neurológicas, existem outras complicações associadas, como traumatismo craniano, de tórax, abdominal e de membros superiores e inferiores. “Frequentemente, esses pacientes ficam acamados, dependentes de outras pessoas para os cuidados básicos e não retornam ao trabalho”, afirma.
De acordo com Faleiro, o uso de equipamentos de segurança é fundamental na prevenção de acidentes, mas o médico destaca um outro ponto essencial para a segurança no trânsito: dirigir com prudência. “O que vemos hoje em dia são motos costurando carros, em alta velocidade. Tudo isso facilita a ocorrência de acidente. Então, o foco da prevenção deve ser mais educacional, promovendo uma mudança de atitude no trânsito”, diz.
O carreteiro Márcio Marcos de Ávila, de 46 anos, se envolveu em um acidente de moto no fim de novembro deste ano, quando viajava de Belo Horizonte para Montes Claros. “Perdi totalmente a consciência, não me recordo das circunstâncias do acidente. Não sei dizer o que aconteceu”, conta.
Motociclista desde os 18 anos, Márcio já havia se envolvido em outros pequenos acidentes, mas nunca com tamanha gravidade. “Fui encaminhado para um hospital de Curvelo. Além da fratura na coluna, tive perfuração no pulmão e diversas escoriações. Fiquei três dias no CTI”, revela.
O carreteiro, que passou por cirurgia no início de dezembro e encontra-se internado no HJXXIII, afirma que, no dia a dia, adota medidas de segurança ao pilotar a moto. “Sempre procurei ser prudente no trânsito e utilizar equipamentos de segurança e vestimentas adequadas para dirigir. Esse acidente certamente serviu para me ensinar que toda cautela é pouca. Vou dirigir com ainda mais cuidado daqui para frente. Até pensei em não pilotar moto nunca mais, mas não acho certo me privar disso. O que posso fazer é minimizar os riscos e dar sequencia na vida”, acredita.
Márcio faz planos de voltar à vida que tinha antes do acidente. “Quero retornar ao trabalho e aos meus afazeres diários. Eu sou apaixonado por moto e adoro viajar. Quero voltar a fazer isso. E curtir minha netinha. Aproveitar pequenos momentos do dia a dia”. E ainda deixa um recado aos motociclistas: “Conduzam a moto pensando na sua segurança e na do próximo”.