Todo o cuidado é pouco quando se tem crianças em casa. Artigos utilizados com frequência no dia a dia, como medicamentos e produtos domissanitários, podem representar um perigo iminente de intoxicação, caso algumas medidas de prevenção não sejam adotadas.
Só para se ter uma ideia, dos 468 casos de intoxicação por medicamentos atendidos no Hospital João XXIII, de janeiro a outubro de 2013, 107 foram de crianças de 0 a 12 anos. “A maioria desses episódios com crianças é acidental. Elas acabam levando algum produto (cápsulas e/ou drágeas, que parecem guloseimas) à boca sem saber do que se trata. Especialmente as menores, na faixa etária de 2 a 3 anos. Algumas também costumam reproduzir o ato dos adultos de se medicar”, explica o coordenador da Toxicologia do HJXXIII, Délio Campolina.
O médico ainda ressalta que, apesar do risco maior de intoxicação ser com medicamentos destinados a adultos - que têm maiores concentrações – os remédios pediátricos também podem ser perigosos, já que apresentam embalagem chamativa e cor e sabor atrativos, para facilitar a administração à criança, o que pode levá-la a ingerir grandes quantidades. “Nem sempre o produto infantil é isento de toxicidade. Um exemplo é o paracetamol, muito utilizado, principalmente, em casos de dengue. A janela terapêutica desse medicamento é muito pequena, ou seja, a concentração utilizada como tratamento é muito próxima da dose tóxica. A intoxicação causada por esse remédio pode causar lesão hepática muito grave. O paciente pode, inclusive, evoluir para óbito”, esclarece Campolina.
Os benzodiazepínicos (antidistônicos, tranquilizantes, etc) continuam sendo as substâncias que mais têm recorrência de ingestão acidental. Isso pode ser explicado pelo fato de haver muita oferta desses produtos nas residências. Intoxicação por antidepressivos e anticonvulsivantes também são comuns.
Medicamentos devem ser mantidos fora do alcance das crianças. Mas nem sempre isso é algo fácil de se conseguir, pois os pequenos costumam ser muito ágeis. Délio Campolina aconselha evitar acumular remédios em casa. “É muito comum que se tome um medicamento e que alguns comprimidos acabem sobrando. Daí, eles são guardados e assim vão se acumulando. Ao final, temos uma gaveta cheia de sobras de comprimidos. Isso é muito perigoso e pode ainda incentivar uma automedicação sem cuidado”, afirma.
Outra dica importante é não tomar remédio na frente das crianças, que podem querer imitar o ato. E, sempre que possível, evitar a automedicação e aquisição de remédios em grandes quantidades.
Além de medicamentos, também é comum a intoxicação por produtos domissanitários, como detergentes, desengordurantes, produtos para fazer limpeza de pedra, tirar sujeira pesada, ácidos e solventes.
Produtos de limpeza clandestinos são ainda mais perigosos e oferecem mais riscos à saúde. “Geralmente, são compostos de ácidos fortíssimos que causam lesões graves. Como são vendidos em concentrações indeterminadas - muitas das vezes, bastante altas, para que ele seja mais efetivo – não passam por um controle e inspeção. Além disso, costumam vir em embalagens inadequadas, como a de refrigerante, o que pode confundir a criança”, esclarece Campolina.
As lesões e sequelas causadas por esses produtos começam desde a boca, e podem queimar esôfago, estômago e intestino. Há ainda a possibilidade de ulceração e necrose de órgãos, além de infecções graves.
O médico esclarece que, em caso de ingestão, a conduta varia de acordo com o produto ingerido. “Pode ser que seja indicado apenas manter o paciente em observação e hidratá-lo. Mas é preciso saber se a dose é tóxica, se é uma quantidade importante e qual o princípio ativo do produto para então avaliar se é recomendado provocar vômitos ou fazer certas descontaminações”, conclui.
A conduta inicial vai depender do agente ingerido. Por isso, o mais indicado é entrar em contato imediatamente com o centro de toxicologia da região para pedir orientação. Dependendo do produto, pode ser contraindicado induzir vômito ou tomar leite, por exemplo.
“A medida de descontaminação deve ser o mais precoce possível. A recomendação geral é fazer contato com o centro de toxicologia, realizar o procedimento instruído pelo atendente e, na sequência, procurar atendimento na unidade de saúde mais próxima”, afirma Campolina.
O Centro de Informações e Assistência Toxicológica de Belo Horizonte (CIAT-BH) fica localizado na própria unidade de Toxicologia do HJXXIII e fornece orientações em caso de acidentes. Os telefones são (31) 3224-4000, 3239 9308 / 9390 ou 0800-7226-001.