Nova perspectiva para crianças com alergia ao leite

Nova perspectiva para crianças com alergia ao leite
Imagem: ACS/Fhemig
A alergia alimentar será  um dos temas da Jornada promovida pelo HIJPII

         
Uma pesquisa científica, ainda inédita no Brasil, vem sendo desenvolvida pelo hospital infantil João Paulo II, da Rede FHEMIG, envolvendo crianças e adolescentes com alergia ao leite de vaca.

 

Estes pacientes que têm reações imediatas quando consomem o leite, estão recebendo, de forma segura e controlada, pequenas doses do antígeno que é a proteína do leite de vaca para induzir o organismo à tolerância do alimento. Em alguns países, já há pesquisa nessa linha com resultados promissores.

Coordenada pelo pneumologista pediátrico, Wilson Rocha Filho, a pesquisa científica, com pacientes na faixa etária de 1 a 15 anos de idade, é realizada por um grupo multidisciplinar do Ambulatório de Alergia Alimentar do hospital integrado por gastroenterologista, pneumologista, alergista, nutricionista, psicólogo e assistente social. O ambulatório, criado em 2008, atende de 12 a 15 crianças com alergia alimentar por semana.
  
Desafio para os pediatras e pais
  
O leite de vaca está entre os principais alimentos que provocam alergia alimentar ao lado do ovo, soja, trigo, amendoim, peixe e crustáceos. Como, na falta do leite materno, ele é o principal alimento das crianças nos primeiros anos de vida, a situação se torna delicada já que a única alternativa é sua exclusão imediata da dieta. Por outro lado, a substituição do leite por um alimento de valor nutricional semelhante não é tarefa fácil, sobretudo para a família. A alergia alimentar é um desafio diário para os médicos, em particular para os pediatras, uma vez que o único tratamento disponível, até o momento, é a suspensão do alimento envolvido.
 
Leite materno, a melhor arma
 
Na prática, o leite materno é a única prevenção para a alergia alimentar, nos primeiros anos de vida, como destaca a gastroenterologista pediátrica, Suzana Fonseca de Oliveira Melo, do Hospital João Paulo II. Ela assinala que, além de afastar o leite de vaca, o aleitamento adia a introdução, na dieta da criança, dos alimentos sólidos, sobretudo os industrializados que são facilitadores de alergia. É importante ressaltar que, a partir dos três anos de idade, aproximadamente 85% das crianças, desenvolvem tolerância aos alimentos que antes causavam alergia.  

 

Jornada 

A alergia alimentar e seus desdobramentos estão entre os temas a serem debatidos na Jornada de Atualização Pediátrica que será realizada nos dias l7, l8 e 19 de novembro na Faculdade de Medicina da UFMG. O evento, promovido pelo Hospital João Paulo II, marca a passagem dos cem anos do primeiro atendimento no hospital infantil.
  

Sintomas
  
De acordo com a gastroenterologista Suzana Fonseca, a alergia alimentar atinge de cinco a seis por cento das crianças abaixo de três anos de idade. A partir daí, o índice cai para três a cinco por cento. Ela explica que a alergia alimentar é uma reação adversa a determinado alimento e envolve um mecanismo imunológico. É uma resposta exagerada do organismo a determinada substância presente nos alimentos. As reações vão de uma simples coceira nos lábios até as mais graves que podem comprometer vários órgãos. As mais comuns envolvem a pele, como urticária, inchaço, coceira generalizada, eczema, manchas e placas vermelhas no corpo. Já os sintomas digestivos se evidenciam por meio de diarreia, vômito, dor abdominal e sangue nas fezes. Além disso, as reações se manifestam também no aparelho respiratório provocando tosse, rouquidão e chiados no peito. Podem ocorrer, ainda, aperto no peito com queda da pressão arterial, arritmias cardíacas e colapso vascular ou choque anafilático com alto risco de morte.
 
Fatores de risco

Pacientes com doenças alérgicas em geral apresentam uma maior incidência de alergia alimentar, sendo encontrada em 38% das crianças com dermatite atópica e em 5% das crianças com asma. A predisposição genética também tem um grande peso. Se o pai e a mãe são alérgicos, a probabilidade de terem filhos alérgicos é de 75%. Estudos indicam que, de 50 a 70% dos pacientes com alergia alimentar, possuem história familiar da doença, cujos casos vêm aumentando ao longo dos anos. Segundo a gastroenterologista pediátrica, Suzana Fonseca, uma das teorias que explicam este aumento é a da higiene exagerada, com o uso indiscriminado de produtos químicos ao lado do consumo freqüente de alimentos industrializados.