Cuidados simples podem evitar o agravamento de acidentes com animais peçonhentos

 

Com a chegada da época de chuvas, aumentam os casos de acidentes com escorpiões, que saem de seus esconderijos à procura de lugares secos. Mas, mesmo durante todo o ano, estes casos representam 60% dos que envolvem animais peçonhentos que chegam ao Hospital João XXIII, da  Fhemig. Os demais acidentes acontecem com lagartas, aranhas, serpentes e insetos himenópteros (abelhas, marimbondos, formigas, vespas).


Somente em 2015, segundo dados do Centro de Informações e Assistência Toxicológica (Ciat-BH), da Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII, foram registrados 1.484 casos com escorpiões, sendo destes 398 atendimentos à distância (por telefone).
Em Minas Gerais, as estatísticas que envolvem acidentes com serpentes são inversas ao restante do país. Aqui, são mais comuns os casos com as do gênero Crotalus (cascavéis) do que com as Bothrops (jararacas, urutus-cruzeiro, jararacuçu). E a época da maior incidência coincide com a dos escorpiões. Os casos são atendidos nos municípios referência de cada região do Estado, onde é distribuído o soro antiofídico.
No final do ano, são mais frequentes os acidentes com as lagartas Lonomia obliqua, também conhecida como taturana. A proximidade e o acesso aos chamados cinturões verdes – condomínios fechados, sítios, bosques e pomares – são fatores importantes para o crescimento dos casos. Estes acidentes são considerados graves, pois podem levar à insuficiência renal e a distúrbios na coagulação sanguínea e, consequentemente, à morte do paciente.

Outro inseto que aparece bastante nas estatísticas são as aranhas. A “armadeira” (Phoneutria) encabeça a lista, com 77% dos casos. Porém, têm crescido as ocorrências com a aranha-marrom, ou aranha-violino (Loxosceles), que é considerada muito perigosa pelos especialistas. Isto porque os sintomas de sua picada demoram a surgir e, quando isso acontece, o tratamento pode ser tardio. Seu veneno tem o poder de necrosar membros ou afetar órgãos vitais, causando até insuficiência renal e, consequentemente, óbito.

Sintomas ajudam a identificar os casos

Nem sempre quem é picado por um escorpião ou outro animal peçonhento consegue vê-lo na hora do acidente. Mas os sintomas são inconfundíveis. No caso dos escorpiões, a dor local é intensa, muito forte, que se irradia pela região. O lugar da picada fica um pouco avermelhado e apresenta sudorese. Se o caso piorar, a pessoa passa a suar muito, tem náuseas, arritmias e chegar a um edema agudo no pulmão, evoluindo a óbito.

Vítimas de cobras podem apresentar diferentes sintomas, de acordo com sua espécie. As da família da jararaca (Bothrops) possuem veneno proteolítico, capazes de lesar e necrosar tecidos, agindo ainda na coagulação e podendo, também, causar lesão renal. Já as cascavéis têm veneno neurotóxico, ou seja, traz distúrbios neurológicos e paralisia muscular.

Já a vítima da aranha-marrom não percebe, de imediato, a gravidade do acidente. Normalmente, confunde o edema com uma picada de mosquito, farpa ou outro pequeno ferimento. Porém, cerca de doze horas depois, o local começa a doer, a ficar vermelho, inchado e com bolhas, semelhante a uma queimadura. A lesão pode evoluir até chegar a necrosar o membro atingido. A pessoa ainda pode ter febre, mal-estar e apresentar urina de cor escura.

Os sintomas do veneno da lagarta Lonomia em contato com a pele são: dor e queimação no local, seguidas de desconforto e dor generalizada pelo corpo; dor de cabeça, náuseas e vômitos; sangramentos na gengiva, nariz, urina e cortes recentemente cicatrizados podem ocorrer até três dias após o acidente; e manchas escuras no local ou em outras partes do corpo.

Outros animais, aparentemente não tão nocivos, também causam sérios acidentes, como abelhas, marimbondos, vespas, formigas e alguns peixes, como o ferrão do mandi, o niquim (de aquário), o peixe-escorpião e o baiacu.

O que fazer (ou não fazer) em caso de acidente

Délio Campolina lembra que, mesmo em caso de dúvida, a pessoa picada ou que teve contato com algum animal peçonhento deve ser encaminhada imediatamente ao hospital. Quanto mais rápido for o atendimento, maiores são as chances da vítima. “O efeito do veneno age como uma queimadura que, se for interrompida a tempo, causa menos lesões”, diz o médico. E as crianças correm maior risco, já que são mais suscetíveis e possuem menor peso corporal: “a dose de veneno fica proporcionalmente mais letal”. Quando é necessário o soro, a pessoa precisa ser assistida por uma equipe de cuidados intensivos.

Muitos cuidados conhecidos são mitos nestes casos. Por exemplo, não adianta tentar chupar o veneno no local da picada da cobra, ou cortar o local. O tecido do músculo impede que o veneno seja sugado. Também não se deve usar torniquete, o que pode piorar o quadro clínico. E não adianta nada passar qualquer coisa no local, seja de picada ou queimadura. “O certo é procurar o médico”, reforça Campolina.

Alguns cuidados devem ser observados para se evitar estes acidentes

- Olhe bem troncos e folhas de árvores antes de tocá-los ou se aproximar;
- Não ande descalço em matas, plantações ou margens de rios e lagoas;
- Não coloque a mão em buracos, tocas e colméias;
- Mantenha a casa, o quintal e jardins sempre limpos, sem acumular lixo;
- Vede frestas de paredes, móveis e portas;
- Verifique sempre roupas e o interior de calçados antes de usá-los. O mesmo vale para roupas de         cama na hora de dormir;
- Use sempre luvas e botas em plantações;
- Evite roupas amarelas e perfumes em locais onde há presença de abelhas.


O Ciat-BH presta orientações, por telefone, sobre acidentes com animais peçonhentos ou com produtos tóxicos: 0800-7226-001 ou (31) 3224-4000.