Com a chegada da época de chuvas, aumentam os casos de acidentes com escorpiões, que saem de seus esconderijos à procura de lugares secos. Mas, mesmo durante todo o ano, estes casos representam 60% dos que envolvem animais peçonhentos que chegam ao Hospital João XXIII, da Fhemig. Os demais acidentes acontecem com lagartas, aranhas, serpentes e insetos himenópteros (abelhas, marimbondos, formigas, vespas).
Outro inseto que aparece bastante nas estatísticas são as aranhas. A “armadeira” (Phoneutria) encabeça a lista, com 77% dos casos. Porém, têm crescido as ocorrências com a aranha-marrom, ou aranha-violino (Loxosceles), que é considerada muito perigosa pelos especialistas. Isto porque os sintomas de sua picada demoram a surgir e, quando isso acontece, o tratamento pode ser tardio. Seu veneno tem o poder de necrosar membros ou afetar órgãos vitais, causando até insuficiência renal e, consequentemente, óbito.
Nem sempre quem é picado por um escorpião ou outro animal peçonhento consegue vê-lo na hora do acidente. Mas os sintomas são inconfundíveis. No caso dos escorpiões, a dor local é intensa, muito forte, que se irradia pela região. O lugar da picada fica um pouco avermelhado e apresenta sudorese. Se o caso piorar, a pessoa passa a suar muito, tem náuseas, arritmias e chegar a um edema agudo no pulmão, evoluindo a óbito.
Vítimas de cobras podem apresentar diferentes sintomas, de acordo com sua espécie. As da família da jararaca (Bothrops) possuem veneno proteolítico, capazes de lesar e necrosar tecidos, agindo ainda na coagulação e podendo, também, causar lesão renal. Já as cascavéis têm veneno neurotóxico, ou seja, traz distúrbios neurológicos e paralisia muscular.
Já a vítima da aranha-marrom não percebe, de imediato, a gravidade do acidente. Normalmente, confunde o edema com uma picada de mosquito, farpa ou outro pequeno ferimento. Porém, cerca de doze horas depois, o local começa a doer, a ficar vermelho, inchado e com bolhas, semelhante a uma queimadura. A lesão pode evoluir até chegar a necrosar o membro atingido. A pessoa ainda pode ter febre, mal-estar e apresentar urina de cor escura.
Os sintomas do veneno da lagarta Lonomia em contato com a pele são: dor e queimação no local, seguidas de desconforto e dor generalizada pelo corpo; dor de cabeça, náuseas e vômitos; sangramentos na gengiva, nariz, urina e cortes recentemente cicatrizados podem ocorrer até três dias após o acidente; e manchas escuras no local ou em outras partes do corpo.
Outros animais, aparentemente não tão nocivos, também causam sérios acidentes, como abelhas, marimbondos, vespas, formigas e alguns peixes, como o ferrão do mandi, o niquim (de aquário), o peixe-escorpião e o baiacu.
Délio Campolina lembra que, mesmo em caso de dúvida, a pessoa picada ou que teve contato com algum animal peçonhento deve ser encaminhada imediatamente ao hospital. Quanto mais rápido for o atendimento, maiores são as chances da vítima. “O efeito do veneno age como uma queimadura que, se for interrompida a tempo, causa menos lesões”, diz o médico. E as crianças correm maior risco, já que são mais suscetíveis e possuem menor peso corporal: “a dose de veneno fica proporcionalmente mais letal”. Quando é necessário o soro, a pessoa precisa ser assistida por uma equipe de cuidados intensivos.
Muitos cuidados conhecidos são mitos nestes casos. Por exemplo, não adianta tentar chupar o veneno no local da picada da cobra, ou cortar o local. O tecido do músculo impede que o veneno seja sugado. Também não se deve usar torniquete, o que pode piorar o quadro clínico. E não adianta nada passar qualquer coisa no local, seja de picada ou queimadura. “O certo é procurar o médico”, reforça Campolina.
- Olhe bem troncos e folhas de árvores antes de tocá-los ou se aproximar;
- Não ande descalço em matas, plantações ou margens de rios e lagoas;
- Não coloque a mão em buracos, tocas e colméias;
- Mantenha a casa, o quintal e jardins sempre limpos, sem acumular lixo;
- Vede frestas de paredes, móveis e portas;
- Verifique sempre roupas e o interior de calçados antes de usá-los. O mesmo vale para roupas de cama na hora de dormir;
- Use sempre luvas e botas em plantações;
- Evite roupas amarelas e perfumes em locais onde há presença de abelhas.
O Ciat-BH presta orientações, por telefone, sobre acidentes com animais peçonhentos ou com produtos tóxicos: 0800-7226-001 ou (31) 3224-4000.