Dados divulgados em outubro deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que a tuberculose já mata mais que a Aids no mundo. De acordo com relatório emitido pelo órgão, a tuberculose matou, em todo o planeta, 890 mil homens, 480 mil mulheres e 140 mil crianças em 2014. Por ano, 9,6 milhões de novos casos de tuberculose são registrados. O Brasil registrou 81 mil novos casos no ano passado.
Para a pneumologista do Hospital Júlia Kubitschek (HJK) - referência estadual no tratamento da tuberculose multirresistente – Munira de Oliveira, tais números são algo inaceitável, uma vez que a doença tem diagnóstico e tratamento. “A morte por tuberculose deveria ser 0”, afirma.
A doença é curável em praticamente 100% dos casos novos, desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa de, no mínimo, por seis meses e a adequada operacionalização do tratamento.
“O fato de ser um tratamento prolongado é um dos principais fatores que dificultam o alcance da cura. Muitos pacientes começam a apresentar melhoras ainda no início do tratamento e, por isso, interrompem o uso da medicação. Outras questões estão associadas ao insucesso da terapia, como o alcoolismo, o uso de drogas, a prevalência de desnutrição, de condições precárias de vida - como pouca luminosidade e aglomeração de pessoas - e da infecção por HIV, que é muito recorrente nesses pacientes”, explica a médica.
Inaugurada no ano passado, a ala G do Hospital Júlia Kubitschek é destinada ao tratamento da tuberculose multirresistente. “Trata-se de estrutura sem precedentes na saúde pública. Um espaço totalmente adequado para receber esse paciente, cujo período de internação caracteriza-se por ser longo. Além das enfermarias, a ala conta com espaço de convivência, sala de jogos, biblioteca e assistência multiprofissional e humanizada. O local ainda é equipado com filtros HEPA - uma tecnologia responsável por filtrar o ar contaminado com o bacilo da tuberculose, garantindo a proteção dos demais pacientes do hospital, familiares e profissionais de saúde”, explica a médica.
Implantado na rede pública desde o ano passado, o teste rápido para detecção da tuberculose possui a capacidade de identificar a presença do bacilo causador da doença em apenas duas horas. O exame também detecta se a pessoa tem resistência ao antibiótico rifampicina, usado no tratamento da doença.
O HJK já oferece o teste rápido ao usuário. A expectativa é que, com a melhoria do diagnóstico, haja um aumento nos casos notificados. “A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) estima que, com o teste rápido, passem a ser identificados em torno de 75 casos de tuberculose multirresistente ao ano no Estado. Em anos anteriores, esse número ficava próximo de 15 casos”, afirma Munira.