HIJPII registra aumento no número de casos de diabetes tipo 1

Na data em que se comemora o “Dia Mundial de Combate a Diabetes” – 14 de novembro - fica um alerta: a incidência da diabetes tipo 1 entre crianças vem aumentando, principalmente  nas mais jovens, abaixo de 4 anos de idade. Segundo o coordenador da Endocrinologia Pediátrica do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), o endocrinologista pediátrico Cristiano Túlio Albuquerque, são mais de dez internações de crianças diabéticas por mês na unidade, o que é considerado um número alto para esta doença, até mesmo comparando com hospitais internacionais.

Vários fatores estão envolvidos neste aumento, dos quais podem ser destacados os genéticos e os ambientais. Dos fatores ambientais, os hábitos alimentares inadequados, com início precoce de ingestão de açúcar, doces, alimentos industrializados, corantes, conservantes, alimentos defumados e embutidos, que podem levar à obesidade ou lesar o pâncreas, mesmo sem causar obesidade.

O Hospital Infantil João Paulo II, da Fhemig, é uma das duas principais referências para o tratamento da diabetes mellitus tipo 1 em Minas, junto ao Hospital das Clínicas da UFMG. Segundo Cristiano Albuquerque, atualmente são mais de 300 crianças e adolescentes em acompanhamento regular no hospital. O Pronto-Atendimento da unidade recebe o maior número de atendimentos de urgência em diabetes tipo 1 de todo o Estado, incluindo a rede privada de saúde, realizando também o maior número de internações pela doença. Além da porta de entrada pela urgência, o hospital recebe encaminhamentos via centros de saúde, de todo o Estado.

Na opinião do médico endocrinologista, o Sistema Único de Saúde (SUS), deve estar preparado para enfrentar este aumento dos casos de diabetes em crianças e adolescentes, bem como atuar preventivamente sobre os resultados danosos de mudanças de hábitos de vida que geram mais sedentarismo e obesidade na população pediátrica. É neste sentido que buscamos reforçar e aprimorar a equipe multidisciplinar do Hospital.

A doença

A diabetes mellitus tipo 1 é uma doença grave e autoimune, que acomete principalmente crianças e adolescentes. Cristiano Albuquerque explica que, por diversas razões, principalmente genéticas, o organismo passa a produzir anticorpos que destroem as células beta do pâncreas, que são produtoras de insulina. Com isso, falta o hormônio no organismo e sua principal função, que é controlar os níveis de glicose (açúcar) no sangue, fica prejudicada.

A diabetes mais comum nos adultos e mais conhecido da sociedade é a tipo 2, em que o pâncreas continua a produzir insulina, mas, devido à obesidade e hábitos alimentares inadequados, o hormônio não consegue agir bem. A diabetes tipo 2 pode ser tratada somente com dieta e comprimidos, mas a diabetes tipo 1 só pode ser tratada com injeções de insulina.

Fatores de risco

Segundo Cristiano Albuquerque, a principal base da diabetes tipo 1 é genética. Mas nem toda genética tem a hereditariedade envolvida. Ou seja, embora seja uma doença genética, não é obrigatório que os pais e outros parentes tenham a doença. Por uma combinação de mutações genéticas, o organismo passa a produzir anticorpos contra as células que produzem insulina no pâncreas, as células beta. Com isso, o pâncreas perde a capacidade de produzir insulina, que é um hormônio essencial à vida, realizando o controle da glicose no sangue.

Não existe prevenção para a diabetes tipo 1. Se a criança nasce com as mutações genéticas, em algum momento da vida a doença vai aparecer. “O que estamos percebendo é que vários fatores podem acelerar este processo, fazendo com que a doença apareça mais cedo. Portanto, ela pode até ser adiada com a adoção de hábitos mais saudáveis, mas não evitada”, ressaltou.

Sintomas

Os sintomas da diabetes tipo 1 são bem característicos. Os três principais são: excesso de diurese (urina), excesso de sede e perda rápida de peso. Na presença destes sintomas, deve ser realizado um exame de sangue para avaliar o nível de glicose (açúcar no sangue). Se a glicose estiver acima de 126 mg/dl há risco de diabetes, e um valor acima de 200 mg/dl confirma a doença. Atualmente, os testes podem ser feitos em qualquer farmácia ou posto de saúde, com apenas uma gotinha do sangue em um dedo da mão. “Os sintomas devem ser bem divulgados entre a população e os profissionais de saúde, pois se não for diagnosticada rapidamente, a doença pode até matar”, ressaltou Cristiano.


Tratamento

A diabetes tipo 1 não tem cura, mas tem  tratamento eficaz. “É necessário muita disciplina, pois é preciso medir os níveis de glicose pelo menos três vezes ao dia e aplicar injeções de insulina todos os dias”, disse Cristiano, lembrando que, além do endocrinologista, um bom tratamento depende de uma equipe multidisciplinar, com presença de enfermeiro, nutricionista, psicólogo, além de educador físico, podólogos, entre outros que podem compor a equipe.

Atualmente, as aplicações de insulina não são tão dolorosas como antigamente. Hoje, existem seringas delicadas, com agulhas curtas, de apenas 6 milímetros (menor que 1 centímetro) e canetas aplicadoras, com agulhas de apenas 4 milímetros. As medidas de glicemia podem ser feitas em aparelhos portáteis. Todo o tratamento é disponibilizado pelo SUS por meio de leis federais e estaduais.


Atendimento no HIJPII

Segundo Cristiano Albuquerque, o início da diabetes tipo 1 é um quadro muito grave e agudo. Geralmente, as crianças chegam graves, muitas precisando de CTI, com risco agudo de morte. “Os sintomas são claros para profissionais de saúde, mas, infelizmente, em muitos casos, as famílias demoram a reconhecê-los, por falta de informações. A maioria dos casos é descoberto em um atendimento de urgência”, disse.

Os pacientes são internados e recebem treinamento multidisciplinar de endocrinologistas, nutricionistas, enfermeiros, psicólogos, além do suporte da assistente social para receber os materiais. É feito um treinamento na enfermaria para que a família aprenda a medir a glicose, seguir uma dieta saudável e, principalmente, aplicar insulina, uma vez que a criança passa a ser dependente deste medicamento injetável para sobreviver. Após a alta, as crianças mantêm acompanhamento no hospital na Unidade de Doenças Complexas (UDC).

O HIJPII conta com equipe multidisciplinar também no ambulatório, que,, juntamente ao Hospital das Clínicas da UFMG, é referência no atendimento. Hoje, são mais de 300 crianças em acompanhamento regular. Como as elas retornam muito frequentemente para ajustes das doses de insulina, são realizadas em torno de 20 consultas semanais. Já o HC-UFMG trata em torno de 400 crianças. Os dois serviços atendem, em média, 75 % do total de crianças em tratamento pelo SUS na Região Metropolitana de BH. Número este que vem apresentando um acréscimo de 5% ao ano.