UTI Pediátrica do HJXXIII, pioneirismo e humanização

 

Pioneira nos cuidados intensivos a crianças e adolescentes vítimas de causas externas, a Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI) do Hospital João XXIII completa 30 anos hoje (12). O setor, que tem 11 leitos e recebe cerca de 250 pacientes por ano, apresenta índice de mortalidade nos casos de traumatismo crânio-encefálico grave abaixo de 10% e de mortalidade geral em torno de 5%, resultados equivalentes aos das melhores unidades de países desenvolvidos. Com relação a infecções, apresenta índices abaixo dos esperados naqueles países.

Participação da família

São internados na UTI, predominantemente, pacientes vítimas de causas externas (acidentes de trânsito, agressões, quedas, queimaduras, intoxicações, acidentes com animais peçonhentos), mas também são recebidos casos clínicos, como bronquiolite, asma, pneumonia, sepse, entre outros.

A equipe é composta por médicos, enfermeiros e técnicos e auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, pessoal de limpeza e secretárias, serviço de apoio (setor de imagem, laboratório, nutrição e dietética, agência transfusional).

Há mais de 18 anos as famílias acompanham a internação em tempo parcial ou integral, dependendo das condições individuais. Presenciam, inclusive, procedimentos e discussões clínicas com o objetivo de se manter transparência de condutas e estreitar vínculos de confiança. Além disso, há momento diário de conversa reservada entre médico, psicólogo e familiares. Essas atitudes fazem com que os pais ou responsáveis contribuam muito para a recuperação dos pacientes e para o bom ambiente da Unidade.

A unidade mantém há 20 anos o Programa em Terapia Intensiva Pediátrica junto com o Hospital Infantil João Paulo II, recebendo ainda residentes de vários serviços de Minas Gerais, da Santa Casa de Misericórdia de Belém do Pará e do Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba, uma das melhores instituições pediátricas do país.

A equipe exerce também importante papel no acolhimento de famílias de pacientes com suspeita de morte encefálica. E, uma vez feito criteriosamente o diagnóstico, trabalha para identificar e respeitar o desejo da família em relação à doação de órgãos e tecidos.

Visita para irmãozinho

A equipe incentiva a visita de irmãos (a partir dos três anos) a crianças internadas, desde que eles manifestem o desejo aos pais. A criança visitante é preparada previamente e acompanhada por psicólogo e pediatra, em horário agendado exclusivamente para ela. Os resultados têm surpreendido positivamente com benefícios para toda a família.

Paciente e família acolhidos

A assistente social Claudia Maria Silva de Carvalho trabalha no Hospital João XXIII desde 1986. Começou no setor de queimados. Em 1987, passou a trabalhar no ambulatório e depois na Pediatria. “Dou prosseguimento aos casos que estão na UTI. Pego a criança desde que entra na unidade até a alta hospitalar”, disse Cláudia que destaca a importância de acompanhar a criança e a família.

Ela acha importante acompanhar a criança e a família, que “chega ansiosa e muito sofrida”. Segundo Claudia, quando a família se sente acolhida ela se sente protegida. Sente que é importante, que o filho é importante, que a equipe está preocupada com ele. Mesmo que venha a falecer a família sabe: eles fizeram tudo por ele. É toda uma equipe envolvida com a família, passando toda a sua experiência de outros casos.

Muitas famílias quando o filho tem alta hospitalar da enfermaria, fazem questão de leva-lo à UTI para que os profissionais vejam o bem que fizeram para aquela criança ou adolescente. “Isto enaltece o ego. É como se dissessem: está vendo, você salvou meu filho. Ele está bem e indo para casa”.

Humanização

A operadora de caixa Cleide Oliveira Mediana, 29 anos, é tia de G.D.O., 5 anos, que no dia 4 de junho sofreu um acidente de carro, quando perdeu a mãe, o avô e o padrasto.  Sobreviveram G e o tio E.D.S., 17 anos. O menino permaneceu internado na UTI por quase um mês e Cleide, que é tia por parte de pai, ficava ao lado do sobrinho durante todo o dia. Chegava de manhã e ia embora à noite.

G. e E. ficaram internados na UTI Pediátrica, um ao lado do outro, não por coincidência, mas por iniciativa da equipe para beneficiar os familiares na visita e também para ajudar na recuperação dos dois. “Tomei um susto quando vi um ao lado do outro. A equipe pensou o quanto isso poderia facilitar para os familiares nas visitas e também nos dois quando não tem nenhum de nos perto”, comentou Celide.

Na opinião de Cleide o trabalho dos profissionais é excelente. “Aqui eu me sinto acolhida, sinto que estou próxima a pessoas que me querem bem e ao meu sobrinho. Tudo aqui é excelente, os profissionais, a atenção na hora de dar a notícia, a preocupação com os familiares. Aqui só não tem jeito quando o Senhor fala: acabou, vou levar comigo. Que Deus abençoe todos muito”.  G.D.O. teve alta hospitalar em julho.