No Dia da Luta Antimanicomial, a Fhemig reafirma seu compromisso em oferecer um atendimento humanizado aos pacientes psiquiátricos.

Foto:Anni Sieglitz
Pacientes do CMT se concentram antes da marcha

Ontem, dia 18 de maio, foi comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, data instituída em 1988 para homenagear o psiquiatra italiano Franco Basaglia, que no final dos anos 70 veio ao Brasil e inaugurou o diálogo sobre a reforma psiquiátrica no país. Dentre as conquistas que se sucederam, estão mudanças nas estratégias de atendimento, como o rompimento com práticas segregativas, e a progressiva substituição de manicômios por uma rede de serviços substitutivos.

Para celebrar a data, como tradicionalmente acontece, trabalhadores, familiares, apoiadores e usuários da saúde mental ocuparam ontem as ruas centrais de Belo Horizonte, com o desfile da Escola de Samba “Liberdade Ainda Que TanTan” . A escola é formada pelos usuários dos diversos serviços substitutivos de saúde mental de Minas Gerais. Pacientes e funcionários do Centro Mineiro de Toxicomania, pelo quarto ano seguido, e do Instituto Raulo Soares, também se fantasiaram e participaram do evento.

A manifestação é organizada pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental e a Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental, com o apoio da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG).

Complexo de Saúde Mental

Mesmo com todas estas vitórias, a busca por uma abordagem mais humanizada e sem preconceitos é incessante. A Fhemig, que tem sob sua administração quatro hospitais psiquiátricos e um Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), é referência no combate a qualquer tipo de violência ou exclusão social contra dependentes químicos e portadores de sofrimento psíquico.

O Hospital Galba Veloso (HGV), o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), o Instituto Raul Soares (IRS), o Centro Psíquico da Adolescência e Infância (Cepai) e o Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), desde que assumidos pela Fhemig, oferecem um serviço individualizado ao paciente, que esteja de acordo com suas necessidades.

O IRS, por exemplo, inaugurado em 1922, foi pioneiro na reforma psiquiátrica em nível nacional, acompanhando a evolução do tema no estado de Minas Gerais, que foi um dos primeiros a entrar na discussão sobre a desconstrução dos hospitais psiquiátricos. Na década de 80, o hospital já dava início ao projeto de humanização, com mudanças físicas e projetos terapêuticos.

Hoje, o tempo médio de permanência do paciente no hospital, quando necessária, é de 18 a 21 dias, diferente do que acontecia no passado, quando a pessoa ficava anos internada, e a tendência é que este número reduza cada vez mais. Segundo Marco Antônio Andrade, diretor do IRS, o hospital tem um compromisso histórico com esta data, já que foi o berço do movimento. “Acreditamos nos princípios sustentados pelo movimento da luta antimanicomial, e por isso fazemos um trabalho complexo visando a desospitalização. Esta data é um momento de reflexão para a instituição, para avaliarmos nosso papel neste contexto”, diz.

História da loucura

O CHPB, antigo Hospital Colônia, é conhecido por ter sido durante décadas, palco de barbaridades cometidas contra pacientes psiquiátricos. O Hospital, que tem 112 anos, passou por inúmeras mudanças ao longo dos anos, mas guarda história e registros que não se apagam.

As primeiras medidas da reforma da saúde mental, adotadas pela Fhemig na década de 70, transformaram o hospital no modelo assistencial de hoje. As modificações físicas aconteceram a partir dos anos 80, com a criação dos Módulos Residenciais, que abrigariam os pacientes de forma mais humana. Estes módulos inspiraram as chamadas residências terapêuticas, hoje espalhadas pelo Brasil.

Em 1996, foi inaugurado o Museu da Loucura, que mostra a história do antigo manicômio, com equipamentos usados na época, fotografias e documentos. O objetivo do museu, que passou por uma grande reforma em 2014, é ser uma referência cultural dentro do CHPB e resgatar a memória da unidade, para que o passado de horrores nunca mais volte a acontecer.

Novo papel das unidades psiquiátricas

O CMT, único CAPs dentre as unidades da Fhemig, e que atende usuários de álcool e outras drogas, não interna pacientes em nenhuma circunstância. “O CMT já faz parte de uma nova rede de assistência, cujo modelo de tratamento está centrado na Atenção Psicossocial, em meio aberto”, explica Daniene Santos, coordenadora do NEP da unidade. Para Daniela Dinardi, diretora do CMT, a preconização do serviço aberto, permite um cuidado com o paciente que vai além do uso da substância: “Por meio deste tipo de abordagem, é tratado também o seu social, o que está em torno dele”, avalia ela.

Segundo Daniela, as unidades da saúde mental devem ser pensadas dentro de uma lógica que as aproxime do SUS e dos preceitos da reforma psiquiátrica. “Belo Horizonte é a cidade que mais avançou na construção de uma rede de serviços substitutivos, e nosso objetivo é sairmos do isolamento e trabalharmos de forma alinhada a ela”, ressalta.