Em 2013, aproximadamente 6% dos pacientes que deram entrada no Hospital João XXIII, da Rede Fhemig, eram idosos acima de 65 anos, a maioria deles por quedas (29%), seguidas dos motivos clínicos (23%), como pneumonia e outras doenças infecciosas – é o que aponta pesquisa inédita desenvolvida por profissionais da unidade em abril de 2014, por meio da utilização do Sistema Informatizado de Gestão Hospitalar (SIGH). O estudo teve por objetivo analisar as principais causas de atendimento a pessoas desta faixa etária no local.
Uma das possíveis razões pelo alto número de atendimentos a vítimas de quedas pode estar no fato de o HPS ser referência em traumas no Estado. Apesar disso, as quedas de idosos, a maioria delas da própria altura, podem ser um sinal clínico de algo mais sério: “o idoso pode cair porque tem pneumonia, infecção urinária, ou porque está enfartando ou tendo um AVC. Por isso não podemos apenas avaliar se houve um traumatismo ou fratura, e sim o que está por trás deste incidente”, afirma Rodrigo Megali, clínico geral da unidade. A multimedicação ingerida para tratamento de enfermidades como hipertensão, labirintite e diabetes também pode contribuir muito para a ocorrência de quedas, já que causam tonturas e alterações no equilíbrio.
No Brasil, cerca de 30% dos idosos caem ao menos uma vez por ano, e destes, de 5% a 10% sofrem lesões severas, dentre elas traumas cranianos e de tórax, fraturas de punho, e as mais graves, de fêmur. Segundo Megali, a fratura de fêmur é um indício de fragilidade, pois aponta que a pessoa sofre de osteoporose e tem baixo reflexo postural. Além disso, muitas vezes a queda não provoca a fratura, e sim acontece em decorrência dela. “Um terço dos idosos com fratura de fêmur morre nos seis primeiros meses após a lesão, e só metade dos que sobrevivem volta a andar de novo e recuperam sua independência”, afirma o médico.
Apesar de o atendimento a vítimas de quedas ser maior, o motivo clínico resultou em mais óbitos. De 263 idosos que faleceram no HJXXIII no ano passado, 104 foram por motivos clínicos (39,5%) e 79 por quedas (30%), considerando que o total de admitidos foi de 6102, sendo 1114 pacientes graves e gravíssimos. Os acidentes de trânsito, embora representem apenas 6% das admissões de pacientes idosos, somam quase 20% dos óbitos desses pacientes.
A pesquisa também apontou que muitos dos idosos que morreram em 2013, foram admitidos em 2012, o que mostra que uma parte considerável dos pacientes mais velhos permanece por um longo tempo no hospital: “um trauma em um idoso pode comprometer o coração, os rins ou ajudar no surgimento de quadros infecciosos, o que pode ser um dos motivos que prolongam sua internação”, aponta Megali. A impossibilidade de se realizar cirurgia em um idoso vítima de queda enquanto ele não estiver clinicamente estável também colabora para uma maior permanência.
57% dos idosos acima de 65 anos que foram atendidos no HPS em 2013 eram do sexo feminino. As mulheres são maioria em todos os motivos de entrada, exceto agressão, autoagressão e ingestão de corpo estranho. “isso pode ser explicado pela própria expectativa de vida das mulheres que é mais alta, o que faz com que haja mais idosas que idosos”, explica Rodrigo Megali. Todavia, apenas 38% dos óbitos de idosos, ocorridos no mesmo período, foram de pacientes do sexo feminino. Os meses com maior incidência de óbitos foram abril e maio (12% cada) e o de menor incidência foi janeiro (4%).
Analisando a classificação de risco, as mulheres foram maioria em todos os níveis de gravidade, exceto para o vermelho (risco gravíssimo), no qual os homens representam mais que o dobro do sexo feminino (2,4% contra 1,0%).
Para o clínico, a pesquisa tem enorme importância na medida em que servirá de base de comparação para as próximas que forem realizadas: “Através do SIGH, temos acesso ao banco de dados completo do paciente, do qual podemos obter informações que nos possibilitarão investir no que for necessário para melhorar nossos resultados”, diz.