Durante o verão, mergulho em águas rasas é uma das principais causas de lesão de coluna em Minas Gerais

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A associação da ingestão de álcool com a realização de mergulhos em águas rasas é ainda mais grave no Estado de Minas Gerais devido à sua geografia marcada pela presença de um grande número de cachoeiras. Somente no Hospital João XXIII, da Rede Fhemig, no verão do ano passado, o mergulho em águas rasas foi uma das principais causas de traumatismo raquimedular, lesão responsável pela incapacidade total ou parcial de jovens com idade entre 19 e 29 anos.

O coordenador do Setor de Coluna do Serviço de Neurocirurgia do HJXXIII, Marco Túlio Reis, ressalta que, no HPS, o verão chegou mais cedo este ano. O médico faz esta observação para ressaltar o fato de que o hospital registrou, já no mês de novembro, dois casos de acidentes resultantes de mergulho em águas rasas.

Em qualquer país do mundo, metade dos casos de TRM está associada a acidentes de trânsito. Em seguida, vêm as quedas de altura. No entanto, segundo o coordenador do Serviço de Neurocirurgia do HJXXIII, Rodrigo Faleiro, Minas Gerais apresenta um perfil singular.

No Estado, no período do verão, a relação se inverte. Os traumatismos raquimedulares decorrentes de quedas de altura, apresentam as maiores ocorrências do país, principalmente porque a região concentra um número expressivo de quedas d’água. O médico ressalta que, embora não haja estatísticas neste sentido, a vivência cotidiana de atendimento a pacientes com TRM, no maior hospital de trauma da América Latina, indica, empiricamente, esta relação de causa e efeito.

Incapacitação irreversível

De julho de 2012 a julho deste ano, 538 pessoas deram entrada no HJXXIII com traumatismo raquimedular (TRM). Deste total, 184 foram vítimas de queda de altura, grupo em que prevalecem os casos de mergulhos em águas rasas.

Do mesmo modo, entre agosto de 2012 e janeiro de 2013, dos 262 atendimentos realizados pelo hospital para TRM, a maioria, novamente, foram as quedas de altura. Para se ter uma ideia da gravidade deste tipo de trauma, dos 184 casos de quedas de altura atendidos pelo HPS, 106 pacientes tornaram-se tetraplégicos ou paraplégicos.

Jovens e alcoolizados

De acordo com Rodrigo Faleiro, 80% dos pacientes atendidos em razão de lesões medulares, no HJXXIII, são homens jovens, com idade entre 19 e 29 anos. Este perfil mostra outro dado representativo; um número considerável dos pacientes atendidos encontra-se alcoolizado. Isto revela que a ingestão de bebidas alcóolicas aparece como um fator que potencializa o risco envolvido nos mergulhos em águas rasas, pois inibe a adoção de medidas de prevenção.

Outra característica comum às vítimas de TRM é a prevalência de quadros depressivos. “Até receberem alta hospitalar, é comum os jovens sequelados negarem para si mesmos sua condição de tetra ou paraplégicos. Após a alta, e diante da irreversibilidade do seu quadro, a maioria entra em depressão”, observa Marco Túlio Reis.

Apesar da sua experiência de mais de 14 anos como frequentador de piscinas e cachoeiras, de não ingerir bebidas alcóolicas e de ter o hábito de verificar a profundidade das águas antes de saltar, o servidor público Wainy Gleysson Silva, de 30 anos de idade, sofreu uma lesão de coluna, no dia 14 de novembro deste ano, ao correr em direção à piscina para realizar um mergulho. Ele escorregou antes de concluir o salto e bateu a cabeça no fundo da piscina. Felizmente, Wainy não sofreu nenhuma lesão neurológica e, portanto, não ficará incapaz.

Para aqueles menos cuidadosos, o servidor público faz um apelo: “nunca pulem de cachoeiras ou piscinas se estiverem alcoolizados. Mesmo sem ter bebido, eu me envolvi neste acidente. Tive sorte, mas não é bom contar com a sorte nestes casos”, pontua.

No caso de acidente, a vítima deve ser mantida deitada. Em nenhuma circunstância, o pescoço pode ser dobrado e o SAMU deve ser acionado imediatamente.

Problema amplo

O TRM não é um problema individual, pois ele traz consigo consequências para o núcleo familiar, haja vista que a pessoa irá desenvolver determinado grau de dependência devido às limitações resultantes dos quadros de tetraplegia ou paraplegia.

Círculo virtuoso

Rodrigo Faleiro faz um apelo a todos os servidores da Rede Fhemig para que atuem no sentido de alertarem suas famílias quanto ao risco representado pelos mergulhos em águas rasas. “Se levarmos em conta que a Fhemig têm mais de 12 mil servidores, se cada um deles agir para informar seus familiares sobre os cuidados a serem tomados ao mergulharem em cachoeiras e piscinas, potencialmente, estaremos evitando um grande número de acidentes”, pondera o médico.

Evite acidentes

Não consuma álcool e/ou drogas.
Não mergulhe em locais desconhecidos.
Busque informações sobre a profundidade do local em que você pretende mergulhar.
Entre primeiro no local, sem mergulhar.
Evite brincar de empurrar amigos para dentro de piscina, cachoeira, lagoa ou mar.