Dia Mundial do Coração - Em artigo, cardiologista do Hospital Alberto Cavalcanti, Ricardo Simões, fala sobre prevenção de doenças cardíacas

 

 

World Heart Day é uma campanha idealizada pela World Heart Federation e realizada em todo o mundo – com apoio das Sociedades de Cardiologia locais. Seu objetivo é a conscientização das pessoas sobre o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, e mostrar a importância da mudança no estilo de vida com a prática de exercícios físicos, a cessação do tabagismo e a adoção de uma dieta saudável. O controle intensivo de determinadas doenças como a hipertensão arterial e o diabete melito é essencial para que diminua a ocorrência de ataques cardíacos, e a discussão sobre qualidade de vida e a importância de hábitos saudáveis seja promovida.

 

As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte no mundo, além de produzir redução em dias de trabalho por ano. A hereditariedade fornece a base para o desenvolvimento das suas diversas facetas como hipertensão arterial, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, embolia, trombose, acidente vascular encefálico, amputações de membros, arritmias, e outras apresentações no sua  ampla constelação de eventos. Isto não significa que outros fatores deixam de influenciar no aparecimento, desenvolvimento e agravamento das DCV. Os principais fatores que podem aumentar os riscos são a obesidade, o tabagismo, o colesterol alto, o diabete, o sedentarismo, o estresse e a poluição ambiental.

O infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico são as duas causas que mais matam no Brasil, tanto homens quanto mulheres, segundo o Ministério da Saúde. Somadas dão quase 40% das mortes no país. O significado desses eventos é semelhante, pois a obstrução das artérias, devido a ruptura de uma placa de aterosclerose, leva à formação de um trombo (coágulo) com oclusão local. A ausência ou a baixa circulação de sangue com oxigênio e nutrientes (principalmente glicose) ao músculo cardíaco (miocárdio), além da obstrução, ocasiona o seu sofrimento  e, com o passar do tempo, a sua morte. Cada minuto após o evento é de extrema importância o que leva a uma necessidade de atendimento emergencial, e por isso falamos em cardiologia que “tempo é músculo”.

Os principais sinais e sintomas predizendo o momento do infarto do miocárdio são: dor no peito, como se fosse um aperto ou em queimação, com irradiação para o braço esquerdo, para o pescoço e mandíbula, para as costas e, com certa frequência, na região epigástrica (“boca do estômago”); geralmente é acompanhada de falta de ar, fraqueza geral, suor profuso, náuseas e sensação de desfalecimento. Algumas peculiaridades podem ser vistas em pessoas portadoras de diabete, nos quais a sensação dolorosa pode não ser percebida, mas a falta de ar progressiva e fraqueza são as queixas mais frequentes.

Outro aspecto é a crença de que a mulher tem menos infarto do que o homem. Seria a diferença de apenas um cromossomo em 46 (mulher: XX e homem: XY), a causa da diferença para suscetibilidade às doenças cardiovasculares? Isso não se mostra verdade, pois as DCV são a principal causa de morte entre mulheres, independentemente da etnia (aproximadamente 500 mil mortes/ano nos EUA, onde cerca de metade são por doença arterial coronária), e sua ocorrência é maior do que a combinação de AVE, câncer de pulmão, DPOC e câncer de mama juntos. Apesar disso, apenas pouco mais da metade das mulheres identifica as DCV como o maior inimigo da sua saúde; além do mais, os sintomas tendem a se apresentar de modo diferente: fraqueza, falta de ar e dores incaracterísticas, em idade mais avançada (cerca de 10 anos mais tarde do que o homem), história familiar forte na ocorrência de eventos cardiovasculares, associação de mais comorbidades como hipertensão arterial e diabete. A apresentação faz-se mais como angina do peito do que como infarto do miocárdio.

Uma forma de prever e prevenir a ocorrência de eventos cardiovasculares, em especial o infarto do miocárdio, é seguir um linha de raciocínio:

-  primeiro, lembre de sua história familiar, se parentes em primeiro grau tiveram infarto com idade precoce (homem <55 anos e mulher<65 anos);

-  segundo, se você for homem tem a probabilidade de ter infarto 10 anos mais cedo do que a mulher;

- terceiro, a presença de comorbidades: hipertensão, diabete, tabagismo, colesterol alto, obesidade e sedentarismo; quanto mais comorbidade, maior o risco;

-  quarto, obtenha uma orientação médica especializada para seguir a complementação com exames.

Essa é uma forma de prevenção das DCV, com a mudança para um estilo de vida saudável.

Mudanças no dia a dia fazem toda a diferença e podem ser adotadas por todos em qualquer idade. Uma das atitudes mais importantes para quem quer cuidar do coração é a prática de exercícios, que devem ser de intensidade leve e no mínimo 150 minutos/semana, e para haver uma constância de execução, divididos em período de 20 a 60 minutos ao dia.

Mantenha uma alimentação saudável, e com isso evite a obesidade, controle o colesterol alto, o diabete e a hipertensão arterial, os grandes inimigos do bom funcionamento do coração. Isto, sem perder o sabor e o prazer à mesa – lembre-se “você pode comer de tudo, mas não comer tudo!”. Além de estar em sobrepeso ou obeso, a localização da gordura na região abdominal é um motivo de preocupação. Para se saber o peso ideal podemos calcular o Índice de Massa Corporal (IMC), obtido pela divisão do peso, em kilogramas, pelo quadrado da altura, em metros. O peso ideal ocorre quando o valor estiver entre 19 e 24,9 Kg/m2, o sobrepeso é diagnosticado quando o IMC alcança valor igual ou superior a 25 kg/m2, e a obesidade a partir de 30 kg/m2. Em concordância ao Guia Alimentar para a População Brasileira – Ministério da Saúde, a alimentação saudável deve ter três tipos de alimentos básicos: com alta concentração de carboidratos, como os grãos (incluindo arroz, milho e trigo), pães, massas, tubérculos (como as batatas e o inhame) e raízes (como a mandioca); frutas, legumes e verduras; e os alimentos vegetais ricos em proteínas, particularmente os cereais integrais, as leguminosas e também as sementes e castanhas. A recomendação é que 55% a 75% da energia diária provenham de frutas, legumes e verduras, cereais – de preferência integrais – e tubérculos e raízes.

O uso de bebidas alcoólicas pode “ajudar” na não ocorrência de DCV, mas aqueles que já são portadores de doença cardíaca ou possuem outras doenças, concomitantemente, têm limitação ao seu uso - “ a prescrição de bebidas alcoólicas como um complementar a saúde cardíaca tem suas limitações”, não faça seu uso sem conversar com um médico. A diminuição na ingestão de sal, por sua vez, ajuda no controle da pressão arterial, sendo o consumo sugerido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia de 4 a 6 gramas por dia. Um ato simples no auxílio à diminuição da ingestão de sal é a retirada do saleiro da mesa. Em média o brasileiro consome mais do que o dobro indicado pela Organização Mundial de Saúde.

O combate ao tabagismo é de extrema importância para o controle das DCV e dados do Ministério da Saúde – Vigitel – mostram que a parcela da população brasileira acima de 18 anos que fuma caiu 20% em todo país nos últimos seis anos. Já em Belo Horizonte, o número de fumantes reduziu 25%, passando de 16%, em 2006, para 12%, em 2012. A mesma pesquisa revelou, ainda, que os homens continuam fumando mais, já que em 2006, o índice era de 21%, passando para 15% em 2012 e entre as mulheres, esse dado era de 11%, reduzindo para 10%, no mesmo período. Quanto aos fumantes passivos no domicílio, passou de 12% para 10% em 2012, assim como houve a sua diminuição no local de trabalho.

Em complemento às orientações acima, é bom lembrar de outros “alimentos saudáveis” para o coração: cultive amizade, saia com os amigos, leia bons livros e dê boas risadas porque essas ações também fazem bem ao coração. Atividades que dão prazer aliviam as situações de tensão. Procure viajar e fique longe da poluição, em todos os seus aspectos, do ar, sonora, visual, lembrando que o estresse é uma das principais causas de “gatilho” na ocorrência de eventos cardiovasculares.


Artigo produzido pelo cardiologista e coordenador da Clínica Médica do Hospital Alberto Cavalcanti, Ricardo Simões