Teve início ontem (18) o Simpósio de Hemoterapia - Contexto de Urgências e Emergências, idealizado pela Fundação Hemominas em parceria com o Hospital João XXIII, da Rede Fhemig. O evento, que acontece no auditório do HPS, vai até o dia 20 de setembro e recebe diversos especialistas em hemoterapia no contexto de traumas.
Estiveram presentes no primeiro dia do simpósio o presidente da Rede Fhemig, Antonio Carlos de Barros Martins; a presidente da Fundação Hemominas, Júnia Guimarães Mourão Cioffi; o diretor do Hospital João XXIII, Antônio José Penido, a gerente assistencial do HJXXIII, Vânia Lúcia Corrêa Tannure; o coordenador do Hemocentro de Belo Horizonte da Fundação Hemominas, Marcelo Froes Assunção; o diretor técnico científico da Fundação Hemominas, Fernando Valadares Basques; e a médica patologista clínica responsável pela agência transfusional do HJXXIII, Laiz Elena Brasil Marzano.
O presidente da Fhemig, Antonio Carlos de Barros Martins, ressaltou a importância da parceria entre Fhemig e Hemominas. “A atuação conjunta entre as duas fundações gera benefícios incontáveis à saúde em nosso estado. A realização desse simpósio trará melhorias visíveis ao atendimento dos nossos pacientes”, disse.
A presidente da Fundação Hemominas, Júnia Guimarães Mourão Cioffi, reforçou a necessidade do trabalho conjunto entre as duas instituições e destacou o papel da agência transfusional do HJXXIII como elo entre as duas fundações. “Trabalhamos de forma compartilhada, trazendo nossos técnicos para o HJXXIII e realizando simpósios e seminários como esse. A nossa meta é manter a excelência na qualidade da hemoterapia oferecida. Nesse sentido, a presença de uma agência transfusional dentro de um hospital de urgência e emergência, como o HJXXIII, é fundamental, pois a demanda é intensa. E temos orgulho de reconhecer que a agência do HJXXIII é referência em qualidade de hemoterapia”, afirmou.
O simpósio teve início com a palestra “Plano de Catástrofes para o atendimento hemoterápico em grandes eventos”, proferida pelo médico patologista e diretor técnico científico da Fundação Hemominas, Fernando Valadares Basques. O especialista explicou sobre a importância de se traçar um conjunto de estratégias para gerir situações de risco - como falta de doadores de sangue ou aumento súbito na demanda hemoterápica – em ocasiões de grandes eventos.
Para elucidar a apresentação, o médico utilizou como exemplo o projeto piloto do plano de atendimento em situações de desastre aplicado na Copa das Confederações deste ano. Foram pontuados vários fatores caracterizados como riscos nesse tipo de eventualidade, tais como: aumento do trânsito nas estradas mineiras, redução do número de doações e presença de turistas com necessidade transfusional e sem parentes para reposição.
Assim sendo, o plano traçado foi dividido em cinco etapas: pré-fase, que corresponde à previsão do aumento da demanda e início do planejamento para que não haja vulnerabilidade; fase de alerta, em que se define a estratégia para contornar possíveis incidentes; fase de alarme, na qual se estabelece o nível da ação e resposta ao incidente; fase de execução, em que ocorre a ativação do plano de contingência; e, por fim, a fase de recuperação e análise, na qual se promove uma reflexão sobre que está dando certo ou não.
De acordo com Basques, o plano foi tão eficiente que ate 30 de julho de 2013 – um mês depois do encerramento da Copa das Confederações - ainda havia 18,5% a mais de hemocomponentes para atender a Fundação Hemominas em todo o estado. “Na capital mineira, os índices obtidos foram equivalentes a um total de 30% a mais do que o volume necessário para o atendimento por pelo menos três dias com zero coleta”, enfatiza.
Outro destaque do simpósio foi a palestra proferida pelo cirurgião do HJXXIII, Tarcísio Versiani, na quarta-feira (18). O médico explicou um pouco mais sobre o plano de atendimento multivítimas do HPS para situações de desastres (ou catástrofes).
“O plano tem como objetivos aumentar a capacidade habitual do hospital, estabelecer prioridades e reorganizar os processos de trabalho em área física, em caso de demandas súbitas”, disse Versiani. O especialista ainda definiu a diferença entre os conceitos de desastre e catástrofe. “Desastre é quando a demanda é acima da capacidade habitual de atendimento. Catástrofe, por sua vez, é quando ocorre o desastre junto a algum acometimento de logística, como falta de transporte, energia elétrica e fornecimento de água, por exemplo”, esclareceu.
Quando o plano é colocado em atividade, os pacientes vindos do desastre passam pela triagem e são classificados como: leve (sem risco imediato de morte – prioridade 3), moderado (urgência – prioridade 2) e grave (emergência, com risco imediato de morte – prioridade 1), a fim de facilitar o fluxo dentro do hospital. Versiani salienta que, segundo a literatura médica, um plano de catástrofes deve ser elaborado para atender até 20% acima da capacidade do hospital. No caso do João XXIII, que possui 400 leitos, seria possível atender simultaneamente mais 80 pacientes vindos de desastres.
O cirurgião ainda explica que, de acordo com a literatura médica, numa situação de desastre, 50% das vítimas são classificadas como “leves” e, para elas, o plano de catástrofes do João XXIII destina três salas da área de emergência; 30% são “moderados”, que ocupam duas salas; e 20%, “graves”, para as quais é reservada uma sala – a de politraumatizados. Desses 20% de pacientes graves, ainda segundo estudos, 10% precisará de uma cirurgia de emergência, o que, segundo o médico, é perfeitamente viável nestas circunstâncias: “Seguindo o nosso protocolo, é possível dar vazão a isso de uma maneira organizada, por meio de um planejamento estratégico”, afirma.
O plano do HJXXIII é acionado quando o incidente envolver um número acima de 30 pacientes. Em caso de menos vítimas, o plano é colocado em prática desde que a maioria dos envolvidos esteja em situação grave. O chefe da equipe médica é acionado pelo SAMU.
Há, então, o deslocamento de enfermeiros e médicos do bloco vertical (andares) para o bloco horizontal (emergência). Dois funcionários do laboratório passam a atuar exclusivamente para as demandas da sala de politraumatizados.
As vítimas, então, têm suas fichas numeradas de 1 a 80. Pacientes aguardando cirurgias ortopédica e programada ou sem risco recebem alta administrativa para que, dessa forma, sejam desocupados o maior numero possível de leitos.
Um espaço do HPS fica reservado à acomodação de familiares. Uma área de imprensa também é criada, fora do hospital. Por fim, pode haver ainda a convocação de voluntários, caso haja necessidade.
Hoje (19), o simpósio recebe o cirurgião do HJXXIII, Paulo Carreiro, que irá falar sobre o tema “Reanimação hemoterápica no trauma”. O médico vai abordar a importância da aplicação de um protocolo de hemoterapia maciça em pacientes com traumas graves.
“De acordo com a literatura médica, a hemorragia grave e o choque são responsáveis por cerca de 80% das mortes na sala de operações e por 50% dos óbitos nas primeiras 24 horas pós-trauma. Vários trabalhos recentes sugerem a redução da mortalidade em pacientes que foram reanimados com o uso precoce de hemoderivados”, afirma Carreiro.
Para o cirurgião, apesar da ausência de um protocolo ideal e da grande variação de condutas entre os profissionais, esforços para a implantação de um protocolo de hemoterapia maciça são fundamentais e devem agregar todos os profissionais envolvidos no atendimento ao paciente traumatizado. “É importantíssimo que se defina quais são esses pacientes e como e quando usar esses hemoderivados. Não só para aperfeiçoar o tratamento, como também para promover um uso racionalizado do sangue”, ressalta.