Informação é a forma mais eficaz para prevenir acidentes com animais peçonhentos

Informação é a melhor forma de prevenir acidentes com animais peçonhentos
Foto: Divulgação ACS/Rede Fhemig
A lagarta Lonomia oblíqua
 

Todos os anos, a Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII, da Rede Fhemig, referência estadual em toxicologia, realiza em torno de dois mil atendimentos envolvendo acidentes com animais peçonhentos, o que dá uma média de seis atendimentos diários. A maioria das ocorrências se deve ao fato das pessoas terem pouca ou nenhuma informação sobre como se prevenir do ataque destes animais.


Um bom exemplo disto são os acidentes envolvendo a lagarta Lonomia oblíqua. Embora, proporcionalmente, ela responda por um número relativamente menor, se comparada aos acidentes com escorpiões, que representam mais da metade das agressões, os casos envolvendo esta espécie de lagarta ilustram bem como o desconhecimento do perigo faz crescer a probabilidade de acidentes.

Ainda que este gênero de lagarta seja mais frequente na região sul do país, atualmente, tem-se registrado um discreto aumento de casos na grande Belo Horizonte, assim como em outras cidades mineiras (Betim, Nova Lima, Esmeraldas e Diamantina). Associado a isto, há uma sazonalidade de ocorrência no período do verão (novembro a março). Noventa por cento das ocorrências motivadas pela Lonomia oblíqua acontecem em áreas de mata e os 10% restantes se distribuem por áreas preservadas presentes nos centros urbanos, tais como parques e praças.

Falta de cultura da prevenção

Desse modo, o morador típico destas áreas (incluído o trabalhador rural) ou o turista correm, praticamente, os mesmos riscos, uma vez que, culturalmente, não existe o hábito do uso de equipamentos de proteção individual ao ingressar em áreas de matas. Aliado a isso, o convívio com animais peçonhentos gera, ao contrário do que se pode imaginar, um afrouxamento do cuidado. Considerando-se que a Lonomia oblíqua possui alta capacidade de camuflagem, a probabilidade de ocorrência de acidentes torna-se ainda maior.

Segundo o biólogo da Unidade de Toxicologia, Breno Teixeira Damasceno, em todo o país, ocorrem, por ano, cerca de 20 mil acidentes envolvendo animais peçonhentos. “A diferença é que, atualmente, o número de mortes, se comparado com o passado, é, significativamente menor, devido à disponibilidade do soro que neutraliza o veneno”, salienta.

Cuidados

É muito importante procurar o serviço médico mais próximo, imediatamente após o contato com as lagartas, assim como levar o animal agressor (que deve ser recolhido com cuidado) para ser feita a sua identificação. Os profissionais de saúde podem contatar o Centro de Informação e Atendimento Toxicológico (CIAT BH), que funciona no Hospital João XXIII, caso tenham dúvidas quanto à identificação ou tratamento do paciente. A coleta da lagarta deve ser realizada de forma a não provocar novo acidente. Portanto, é necessário usar luvas grossas, camisa de mangas compridas, uma pá ou ferramenta semelhante.

Perfil

A lagarta é a fase larval dos lepidópteros (borboletas e mariposas). Nesta fase, através de suas cerdas urticantes, a Lonomia oblíqua libera uma toxina com ação anticoagulante, que, ao entrar em contato com a pele, pode provocar desde irritação local a hemorragias subcutâneas e até mesmo hemorragias mais graves que atingem órgãos vitais. Potencialmente, toda lagarta causa acidentes (leves ou complicados). 

De acordo com a médica Solange Lourdes Silva Magalhães, da Unidade de Toxicologia, os acidentes com a Lonomia oblíqua são mais perigosos porque elas são animais gregários (vivem aglomerados, juntos, nos troncos das árvores), assim, no momento do contato, vários animais atacam ao mesmo tempo.  Devido à pressão, o veneno é expelido pelas cerdas em alta quantidade e pode levar à ocorrência de hemorragia mais ou menos grave, dependendo da quantidade de veneno expelida.

Assim, ao entrar em contato com a pele, as cerdas que contém substâncias irritantes causam dor intensa, irradiando até a raiz do membro atingido, com aparecimento de linfonodos dolorosos (“ínguas”), eritema (vermelhidão) e, às vezes, quadros alérgicos.

No caso específico da Lonomia obliqua, além dos sintomas anteriores, o paciente pode apresentar hemorragia em gengivas, pela urina, em pequenos ferimentos preexistentes, em narinas, através de cicatrizes recentes, ou, nos casos graves e não tratados, sangramentos no sistema nervoso central (AVC hemorrágico), ou, ainda no sistema digestivo ou respiratório. Também podem ocorrer alterações renais, desde sangramentos até insuficiência renal, com a necessidade de hemodiálise.

Histórico

As lagartas do gênero Lonomia oblíqua viviam em espécies nativas de matas, como o cedro. Tudo indica que, em razão das queimadas, dos desmatamentos, da invasão do homem sobre áreas florestais, assim como do uso indiscriminado de agrotóxicos que eliminam os predadores naturais, causando desequilíbrio ecológico e migração para áreas residenciais, com adaptação aos pomares, principalmente às plantas frutíferas, como ameixeira, goiabeira e mangueira, entre outras.

Orientação à população

Para mais informações sobre animais peçonhentos e formas de prevenção, os interessados podem ligar para (31)3224-4000 ou 0800 622 6001. O atendimento telefônico é diário e funciona 24 horas.