O Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), da Rede Fhemig, é pioneiro e (provavelmente) o único hospital público brasileiro a realizar, de forma estabelecida, o procedimento da perfusão isolada de membros (PIM) para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo em vista que, pela grande complexidade técnica e pela alta capacitação da equipe, normalmente, a técnica é oferecida apenas em grandes centros privados de excelência.
Até o momento, a equipe de cirurgiões oncológicos do HAC atendeu 18 casos de pacientes provenientes de várias cidades mineiras. O caso mais recente foi o de uma mulher, atendida em setembro do ano passado. Ela apresentava um melanoma com dezenas de metástase na perna, lesões avançadas, dolorosas, sangrantes, com mau cheiro e com indicação de amputação. Após o procedimento, a paciente não somente teve a perna preservada, como também houve uma regressão significativa das lesões.
Atualmente, o número de pacientes com estágios avançados da doença apresenta um crescimento significativo. Isso gera uma demanda para que centros públicos de referência no tratamento do câncer como o Hospital Alberto Cavalcante sejam capazes de desenvolver e disponibilizar técnicas complexas e de vanguarda para pacientes do SUS. Os pacientes que podem se beneficiar da Perfusão Isolada de Membro (PIM) devem ser encaminhados para os Ambulatórios e para a Cirurgia Oncológica do Hospital Alberto Cavalcanti onde há profissionais aptos para atendê-los.
Segundo o coordenador da Oncologia do Hospital Alberto Cavalcanti, cirurgião oncológico Alberto Wainstein, a instituição também é a única desta especialidade que ensina a técnica da perfusão isolada de membros no âmbito da residência médica em cirurgia oncológica. “Programamos realizar esse procedimento, de modo a torná-lo padrão na Fhemig, beneficiando dezenas de pacientes, bem como capacitando residentes de cirurgia oncológica a disponibilizar esta técnica em novos centros de oncologia”, argumenta Wainstein.
O médico residente de cirurgia oncológica, Daniel Claus Fruk Guelfie, que participou de todos os procedimentos cirúrgicos realizados no HAC, conta que é recompensador trabalhar com esse tipo de paciente, pois a técnica cirúrgica da perfusão torna possível ter uma reposta clínica excepcional no membro tratado aliviando a dor e evitando-se amputações “É uma possibilidade de aprendizado técnico muito importante. Principalmente porque o procedimento é realizado apenas em centros oncológicos mais avanços, uma vez que requer recursos como um CTI capacitado para atendimentos de pacientes graves e uma equipe com grande qualidade técnica”, ressalta Daniel Guelfie.
A perfusão isolada é um procedimento cirúrgico extremamente inovador e complexo que permite o tratamento do câncer e evita amputações, ao tornar possível a preservação do membro atingido por lesões tumorais (principalmente melanomas e sarcomas), uma vez que tem como resultado a regressão integral ou parcial das lesões, constituindo-se numa alternativa altamente eficaz à amputação radical, pois preserva a função do membro e assegura melhor qualidade de vida aos pacientes. A perfusão age sobre as lesões visíveis, como também sobre micrometástases que possam estar presentes.
Através da PIM, o membro acometido é desligado (temporariamente) do corpo do paciente e ligado a uma máquina de circulação extracorpórea (coração artificial) e a um oxigenador (pulmão artificial), o que faz com que a parte atingida seja isolada do restante do corpo.
Em seguida, o membro onde o tumor esta concentrado é submetido à quimioterapia com uma dose muito alta (mas segura, tendo em vista que o quimioterápico não vai circular por órgãos nobres) que irá destruir o tumor. Desse modo, o restante dos órgãos é poupado dos efeitos destruidores da quimioterapia e é possível usar doses altíssimas apenas onde o tumor se encontra.
O procedimento é indicado para casos em que, frequentemente, outros tratamentos como quimioterapia e radioterapia não funcionam porque o câncer está tão avançado que a dose necessária para combatê-lo, provavelmente, destruiria órgãos nobres como medula, pulmão, rim e coração.
Embora a perfusão isolada de membro tenha tido a sua primeira descrição em 1958, somente na década de 1990, devido aos avanços tecnológicos, ela adquiriu o caráter de tratamento padrão para várias patologias como melanoma, sarcoma e tumores de membro. Desde a sua introdução na prática clínica até o momento, a técnica foi submetida a significativas modificações responsáveis pelo seu aperfeiçoamento.
Atualmente, o câncer de pele figura entre as neoplasias cuja incidência registra o maior crescimento em todo o mundo. No Brasil, segundo estimativas do Instituto do Câncer (Inca), para 2012/2013, haverá 134 mil casos deste tipo de câncer.
Entretanto, o procedimento da perfusão isolada beneficia somente os pacientes com melanoma, o câncer mais agressivo que existe e que se dissemina precocemente e acomete muitos adultos jovens, e àqueles com sarcomas de extremidade.