O Serviço de Neurocirurgia do Hospital João XXIII (HJXXIII), da Rede Fhemig, com o apoio do Departamento de Trauma da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia realiza nesta sexta-feira (30), curso de Oximetria Cerebral.
O evento acontece no auditório do hospital e se destina aos servidores da Rede Fhemig que atuam em Centros de Terapia Intensiva (CTI). Também participam coordenadores e representantes de CTIs de diversos hospitais mineiros.
O Hospital João XXIII é a única instituição de saúde, em Minas Gerais, que conta com o equipamento de oximetria cerebral. Além disso, esta é a primeira vez, no Estado, que o curso será oferecido. O HPS possui dois aparelhos, ambos doados por empresas de equipamentos médicos, a Hall Medical e a Dabasons.
Segundo o coordenador do Serviço de Neurocirurgia do HJXXIII e do Departamento de Trauma e Terapia Intensiva da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Rodrigo Faleiro, o que os profissionais querem, em relação ao trauma, é impedir a morte neuronal. “Atualmente, a aferição da morte neuronal é empírica. Com o novo aparelho, ela torna-se objetiva. Neste sentido, mais uma vez, o Hospital João XXIII cumpre o seu papel ao disponibilizar novas técnicas que aprimoram a assistência, assim como possibilitam aos médicos residentes terem contato com tecnologias de ponta”, enfatiza o neurocirurgião.
A temática da oximetria cerebral ainda se constitui em novidade. Atualmente, o paciente com quadro de traumatismo crânio-encefálico tem monitorada apenas a pressão intracraniana. No entanto, em alguns casos, apesar da pressão intracraniana estar normal, há uma evolução para isquemia cerebral, ou seja, para uma situação de falta de oxigênio no cérebro.
Neste contexto, o novo cateter mede os níveis de oxigênio no cérebro, o que torna possível ao médico tratar previamente a isquemia, uma vez que problemas de ventilação, de gerenciamento do medicamento vasoativador, bem como disfunção vascular cerebral e formação de edema, são previamente detectados, o que possibilita a intervenção do médico de forma antecipada.
O simpósio tem como principal palestrante o chefe do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital Universitário Nuestra Señora de Candelaria, o médico espanhol, Santiago Lubillo que é uma das autoridades no assunto.
Santiago Lubillo disse, durante o evento, que ficou surpreso com o porte do Hospital João XXIII e, principalmente, por ser este um hospital totalmente dedicado ao trauma. Segundo ele, na Espanha esta é a causa principal de mortalidade e morbidade na população abaixo dos 40 anos.
Lubillo conheceu o neurocirurgião Rodrigo Faleiro no Congresso Latino Americano de Neurocirurgia, ano passado, no Rio de Janeiro. A oportunidade de trocar experiências fez com que ele aceitasse o convite para vir a Belo Horizonte. “Os casos são diferentes; não atendemos com frequência, por exemplo, situações de pacientes vítimas de armas de fogo. Mas temos muita experiência com aneurismas, traumas e acidentes de trânsito”.
O hospital onde ele atua está localizado próximo às Ilhas Canárias, com uma população de dois milhões de pessoas, que é atendida em quatro hospitais. Santiago soube que o Hospital João XXIII atende, sozinho, à demanda de Belo Horizonte e Região Metropolitana, que, somada, perfaz um contingente de quase três milhões de habitantes. “Fiquei muito curioso em conhecer o trabalho realizado aqui”, revela.
Sobre o tema do evento, o médico acrescentou que “diferente dos outros órgãos, o cérebro não tem a capacidade de armazenar oxigênio. Com pouquíssimos minutos sem oxigenação, ele já começa a sofrer. Embora existam equipamentos que medem a pressão intracraniana, a oximetria dá um parâmetro mais abrangente das condições clínicas do paciente”, ensina.
Santiago ainda citou os casos de morte encefálica. Em tais circunstâncias, a capacidade de previsão da oximetria é significativamente maior que a dos outros equipamentos. “Ao se detectar, com a oximetria, que os valores estão muito baixos, pode-se prever mais rapidamente a morte encefálica e dar início aos protocolos. Com isso, se for o caso de transplantes, consegue-se uma melhor qualidade dos órgãos a serem doados”, disse. Nesse sentido, a Espanha é o país com maior número de doações de órgãos no mundo.
Santiago afirmou que, no Brasil, somente conhece o uso da oximetria no Rio de Janeiro. Em seu país, a aferição da pressão intracraniana é considerada obrigatória e a oximetria é utilizada em 40% dos casos indicados. Ele ainda comentou que o monitoramento neurológico custa praticamente o dobro no Brasil. “Por outro lado, o investimento em capacitação dos profissionais ainda é baixo”, ponderou.