Juliete Alves de Oliveira viajou 560 km, de Padre Paraíso até Belo Horizonte, para conseguir um atendimento adequado para a filha Tamara, que nasceu surda, muda e com transtornos mentais. A garota de 16 anos está internada no Centro Psíquico da Infância e da Adolescência (Cepai), da Rede Fhemig, desde o dia 9 de outubro, após passar por uma crise que a tornou muito agressiva.
Sem condições de manter o tratamento em sua cidade, que fica na região Nordeste do estado, a solução foi vir à capital para acompanhar a internação da filha. Mais tranquila por ver a melhora de Tamara já no segundo dia de tratamento, brincando na piscina, Juliete elogia o Cepai. “O espaço é enorme, tem muitos brinquedos. É bem tranquilo, como se eu estivesse num hotel”, afirma.
Mais que lazer e tranquilidade, a instituição oferece um tratamento altamente especializado, que é referência em Minas Gerais e Belo Horizonte na Atenção em Saúde Mental da Criança e do Adolescente de até 17 anos, para os casos de maior complexidade, bem como centro de excelência de referência nacional na formação de profissionais da Rede SUS.
Quando o paciente chega, uma equipe multidisciplinar o avalia e elabora o Plano Terapêutico Individual, em que são estabelecidas as atividades terapêuticas a serem desenvolvidas de acordo com suas necessidades específicas. “O trabalho aqui é muito bonito, é um hospital muito diferente. É prazeroso trabalhar dessa forma”, afirma a coordenadora da enfermagem, Maria Carolina. Ela informa que o paciente é atendido de forma integral, não só considerando a saúde mental, mas todos os aspectos de sua vida e do contexto social em que está inserido. Ela cita casos em que é necessário ir além do tratamento médico e até ensinar regras básicas de convívio social, como sentar-se à mesa e comer.
Os psicólogos e assistentes sociais trabalham junto com as famílias para garantir que os jovens sejam bem recebidos no retorno para casa ou referenciados para outros centros de atendimento, conforme o caso. O paciente só sai da unidade se tiver o encaminhamento para dar continuidade ao tratamento após a alta e as condições mínimas necessárias ao seu bem-estar. Se residir no interior, o município tem que buscá-lo e encaminhar para o local apropriado. “Já tivemos caso de um índio que ficou aqui por mais de um mês porque queríamos que ele tivesse uma casa adequada para morar e ele não tinha”, lembra a enfermeira.
Atividades lúdicas e culturais são usadas como auxílio ao tratamento. No período que antecedeu às eleições municipais, a equipe propôs aos internos que elegessem um prefeito para o Cepai e se surpreendeu com a adesão e o envolvimento de todos. Foram criadas duas chapas e os candidatos-mirins apresentaram suas propostas, percorrendo as dependências da instituição em busca de votos. O dia das crianças foi comemorado com um cardápio diferenciado, sorvete, sessão de cinema na brinquedoteca e muitas brincadeiras. “É bom que as crianças não fiquem privadas de atividades sociais no período da internação”, explica a gerente administrativa Jussara Lopes.
Um grupo de estagiários da enfermagem promove a leitura e discussão de notícias selecionadas pelos jovens nos principais jornais e disponibilizadas para a comunidade do hospital. Além da criação e/ou manutenção do hábito da leitura, a produção do “Jornal do Cepai” contribui para melhorar a interação entre o grupo, pois ensina a ouvir e falar na hora certa e estimula o respeito à opinião alheia.
O Centro Psíquico da Adolescência e Infância oferece serviço de urgência em psiquiatria 24 horas; atendimento à crise com psiquiatria, neurologia, psicologia, terapia ocupacional, serviço social, fonoaudiologia e fisioterapia. Entre os dispositivos de tratamento incluem-se alojamento conjunto, leito-crise, permanência-dia, oficina terapêutica, ambulatório e lar abrigado.