10 de Outubro: Dia Mundial de Saúde Mental

Diretora do Centro Mineiro de Toxicomania, Raquel Pinheiro
Foto: ACS-Fhemig
A diretora do Centro Mineiro de Toxicomania, Raquel Pinheiro

Quando se fala em saúde mental, muitas pessoas pensam nos doentes mentais, naquele “doido” que anda pela rua conversando sozinho. Nós, profissionais da saúde mental, pensamos em como podemos, por intermédio de nossa técnica/prática, resgatar o cidadão e inserí-lo ou reinserí-lo no convívio familiar e social.

Uma das maiores dificuldades para se mudar a ideia de que saúde mental é doença mental é o preconceito das pessoas. Este preconceito nos impede de perceber que todos nós estamos sujeitos a apresentar, em algum momento da vida, uma doença mental. Aliás, hoje em dia não se fala mais em doença mental e sim em sofrimento mental.

Passamos ao longo da vida nos preocupando com as coisas materiais e em como consegui-las e muitas vezes nos esquecemos de cuidar de nossa saúde mental.

A saúde mental exige que saibamos dividir nosso tempo entre trabalho e lazer. Que o trabalho seja digno e humano. E que o lazer realmente sirva para liberarmos nosso stress e sentir alegria por fazer coisas simples que nos façam rir e brincar. Que saibamos dividir nosso tempo entre família e amigos, pois socializar é importante, assim como cuidar de quem sempre cuidou de nós.

Estamos vivendo uma “crise social” de falta de solidariedade e de companheirismo. Damos mais valor ao que temos do que ao que somos. Damos mais valor ao “esperto” do que ao correto.

Estamos vivendo uma “epidemia de violência”, que começa em casa, passa pelo trânsito e termina na completa desconsideração do outro e do que é viver em sociedade.

Estamos cada vez mais lançando mão de substâncias para darmos conta do dia a dia. Se nós estamos tristes, isso logo se transforma em depressão e, logicamente, queremos um “remédio” para tratar a depressão.

Auto medicar está ao alcance da mão e é mais fácil do que enfrentar nossos problemas, nossas fraquezas etc. Se toma remédio pra dormir, pra acordar, pra ficar agitado, pra ficar calmo, pra namorar, pra fazer sexo, pra se divertir... E alguns abusam de álcool, cocaína e crack em busca também desse prazer imediato e para lidar com a dureza da realidade e principalmente do contato com o outro.

Quando o assunto é álcool e drogas, identificamos no outro o problema e temos a mesma tendência que se tinha nos anos de 1960 e 1970. Ou seja, aquilo ou aquele que não entendemos, ou que achamos diferente, é preferível afastá-lo, excluí-lo.

Em 1960/70, as pessoas eram internadas em hospitais psiquiátricos simplesmente por pensarem diferente dos pais. Muitos familiares colocavam filhos, pais e irmãos nos hospitais e mudavam de endereço para não correrem o risco do “paciente” receber alta e voltar pra casa. Hoje esse quadro se repete, num certo sentido, com pais e familiares querendo internar, de preferência por tempo indeterminado, usuários de álcool e outras drogas.

Estamos dando alguns passos para trás, quando pensamos que a exclusão seja alguma forma de tratamento. O problema atual de álcool e drogas tem suas raízes nessa pouca consciência de nossa responsabilidade pela família e pela sociedade que construímos e por nossas próprias escolhas.

Espero que todos nós possamos, todos os dias, no nosso trabalho, nossa casa, com nossos filhos, parentes, amigos e colegas de trabalho, entender que saúde mental é tudo o que sentimos. Nossa alegria, nossas tristezas, decepções e realizações. E que a melhor (e única) forma de lidarmos com a realidade é enfrentando os problemas e nos tornando cada vez mais conscientes de nossa responsabilidade pelo mundo que construímos e queremos para o futuro.

Raquel Martins Pinheiro – Diretora do Centro Mineiro de Toxicomania da Rede Fhemig