Depois de quatro abortos, a babá e doméstica Helenice Maria da Silva, de 31 anos de idade, conseguiu realizar o sonho de ser mãe. O pequeno Ítalo, no entanto, não pode esperar nove meses para conhecer Helenice. Na trigésima semana de gestação, o bebê nasceu prematuramente em um parto de alto risco.
Encaminhado para a unidade de tratamento intensivo neonatal, Ítalo pesava apenas 1kg e 490 gramas. Após uma estada de 13 dias e ganho de peso, a criança foi levada para o berçário. Além do atendimento especializado da equipe da UTI e do carinho da mãe, que visitava o filho todos os dias, o fator determinante para a recuperação do bebê foi a dieta exclusiva de leite humano.
O leite produzido por Helenice não foi suficiente para amamentar o bebê na quantidade necessária, mas ela contou com o Banco de Leite Humano da Maternidade Odete Valadares, da Rede Fhemig, para suprir a falta. A babá nunca havia ouvido falar em bancos de leite. “Conheci o banco quando entrei na maternidade. Achei ele muito bom, organizado e limpo. Com o banco de leite, o meu filho se desenvolveu bastante e ficou mais forte”.
Na família de Helenice, o hábito da amamentação é cultivado há gerações. Assim, ela compreende a importância da criança receber nos primeiros anos de vida exclusivamente o leite humano. “A amamentação é muito importante para os nenéns porque dá muita força para eles”, ensina.
Assim como Ítalo, outras 168.986 crianças receberam os 165.624 litros de leite humano doados por 166.809 mulheres, somente no ano passado, graças ao trabalho da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano que congrega 212 bancos de leite humano (BLH) de todo o país e mais 110 postos de coleta. Destes, o BLH da Maternidade Odete Valadares é referência no estado de Minas Gerais.
Criado há 26 anos, o BLH da MOV é o centro formador dos profissionais que atuam nos demais bancos de leite estaduais. Para ele convergiram mais de duas centenas de mulheres em busca de ajuda para amamentarem seus filhos. Apenas nos primeiros oito meses deste ano, o banco de leite da maternidade coletou 2.456 litros de leite doados por 2.429 mulheres.
"O BLH adquire um papel crucial, não somente por prover o recém-nascido de suas necessidades nutricionais (por meio da distribuição de leite), como também por disseminar a cultura da amamentação como um direito de toda criança", ressalta a coordenadora do BLH, Maria Hercília de Castro Barbosa.
Instituído no ano 2000 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), os “Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM) têm entre suas metas a redução da mortalidade infantil em dois terços até 2015. Para a consecução deste objetivo, o aleitamento materno exerce um papel crucial, uma vez que as crianças amamentadas com leite humano estão menos sujeitas a óbito e doenças, tais como otite média, doença celíaca, doença de Crohn, diabetes e câncer.
É importante frisar que os Bancos de Leite não têm o objetivo de substituir o aleitamento materno, mas sim incentivá-lo, uma vez que somente com a conscientização das mulheres quanto à importância do aleitamento, é possível conseguir o leite excedente produzido pelas mães. Existe um consenso em torno da ideia de que os Bancos de Leite e os Hospitais Amigos da Criança, em consonância com os programas do Ministério da Saúde e das sociedades pediátricas, são responsáveis pelo aumento dos índices de aleitamento materno a partir do ano 2000.
O primeiro Banco de Leite de que se tem notícia foi criado há 112 anos (1900) em Viena, na Áustria. Uma década depois, surgiu o segundo BLH, desta vez em Boston, nos Estados Unidos. No Brasil, o primeiro Banco de Leite data de outubro de 1943.
As mulheres que desejam doar não podem ser fumantes, consumidoras de bebida alcoólica ou fazerem uso de medicamentos que contra indiquem a amamentação. Também é necessário que todos os exames de pré-natal sejam negativos.
Além disso, antes da doação, a mama deve ser lavada com água. Para secar, pode ser utilizado um pano limpo ou gaze. O primeiro jato de leite deve ser desprezado, de modo a permitir a limpeza dos canais do mamilo e, somente após, dar início à coleta.
É importante ressaltar que todo leite doado passa por rigorosos exames para evitar contaminação. Depois de pasteurizado (processo realizado pela Maternidade Odete Valadares), o leite pode ser armazenado por até seis meses. Por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são aplicados os mesmos procedimentos exigidos para a doação de sangue.
O Banco de Leite Humano realiza a coleta domiciliar. Os frascos são recolhidos nas casas das doadoras, uma vez por semana, mas elas também poderão procurar diretamente o banco de leite ou posto de coleta, caso seja do seu interesse.
Para mais informações, as mães que desejam fazer a doação devem entrar em contato com o Banco de Leite Humano da Maternidade Odete Valadares, através do telefone (31) 3298-6008, de segunda a sexta, de 8:30 às 17:30 horas.