Tendo como fio condutor a pesquisa científica e a incorporação de novas tecnologias, o II Simpósio de Investigação em Oncologia do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), da Rede Fhemig, realizado entre os dias 19 e 20 deste mês, reuniu profissionais do hospital e convidados de instituições de ensino e pesquisa, para discutirem possíveis caminhos para a construção efetiva da medicina baseada em evidências, de modo a estabelecer uma ligação concreta entre a pesquisa científica de qualidade e a prática clínica.
Na abertura do evento, a diretora do HAC, Dalze Lohner, ressaltou que o binômio “pesquisa-qualidade da assistência” são fatores determinantes para o sucesso do tratamento dos pacientes com câncer. “Para sairmos do lugar, é necessário que saibamos para onde vamos. No Alberto Cavalcanti, sonhamos muito. Os novos servidores têm sido atraídos, principalmente, pela busca de alternativas para o tratamento, bem como pelos investimentos em recursos humanos”, salientou a diretora.
Segundo o cirurgião oncológico e diretor da Oncologia do HAC, Alberto Wainstein, o hospital é uma das maiores instituições no que tange à pesquisa em oncologia no Brasil. “Os pacientes do HAC foram os primeiros a testarem uma nova droga que esta em desenvolvimento e que ainda não possui nome comercial, o AZD 3064”. Wainstein afirmou que o câncer é a maior fronteira da medicina. "Os maiores avanços acontecem na área da oncologia”.
A diretora assistencial da Rede Fhemig, Lívia Ferreira, defendeu a ideia de que o HAC tem se tornado, cada vez mais, uma referência no tratamento e no ensino em oncologia. Do mesmo modo, o gerente de Ensino e Pesquisa, Roberto Marini, acredita que o crescimento do número de casos de câncer, em todo o mundo, deve ser encarado (além do aspecto de refletir a transição demográfica experimentada pela população mundial) como um desafio para os profissionais da saúde.
Estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mostram que este ano, somente em território nacional, o número de pessoas acometidas pelo câncer irá superar a marca dos 500 mil casos. Paralelo a isso, projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, em 2030, o número de casos da doença deve crescer mais de 75% em todo o mundo. Diante deste cenário, o câncer passará a ser a principal causa mundial de morte. Atualmente, ele já encabeça a lista de causas de óbitos em diversos países de alta renda.
A pesquisa clínica permite que a população tenha acesso aos melhores tratamentos, na medida em que gera novos conhecimentos para o avanço da assistência em oncologia. De acordo com a enfermeira oncológica do HAC e especialista em pesquisa clínica e ética da pesquisa, Pollyana Magalhães, que proferiu a aula magna do simpósio, o ambiente hospitalar é o mais rico para a pesquisa, uma vez que ele oferece uma grande variedade de complexas situações cotidianas que favorecem a problematização do processo saúde/doença.
Para a especialista, além de se constituir num direito, a pesquisa científica é, também, um dever de todo profissional da saúde. Acrescente-se a isso, o fato de que há um mercado promissor no campo da pesquisa clínica ainda pouco explorado no país. Para se ter ideia do potencial desta área, vale citar o exemplo dos Estados Unidos. Neste momento, estão em curso mais de 65 mil estudos clínicos, em contrapartida, no Brasil, este número vai um pouco além de três mil, ou seja, menos de 10% das pesquisas desenvolvidas em solo norte americano. Pollyana Magalhães reforça seus argumentos ao salientar o fato de que a oncologia é uma das poucas áreas da medicina na qual a incorporação de novos conhecimentos à prática clínica se dá de forma bastante efetiva.
Além de consolidar o papel do HAC como referência no tratamento do câncer, a pesquisa científica dá suporte ao desenvolvimento de programas de pós-graduação. A partir do mês de outubro, a Fundação Educacional Lucas Machado (FELUMA) irá oferecer um curso de especialização idealizado com a colaboração de profissionais do Hospital Alberto Cavalcanti. Com duração de três semestres, o curso visa formar pesquisadores que utilizam o conhecimento científico para o aprimoramento da assistência.
O Brasil apresenta problemas para a incorporação de novas tecnologias em saúde. Novas drogas e procedimentos de uso disseminado em outros países, ainda não estão na tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), sustenta o mastologista Henrique Lima Couto. Segundo ele, no Brasil, a incorporação de novas tecnologias ainda é encarada como custo.
Para se ter uma ideia da magnitude do problema, o INCA preconiza, desde 2004, o uso de novas tecnologias que não foram incorporadas pelo SUS, afirma o mastologista. “Há um significativo descompasso entre os avanços tecnológicos em oncologia postos em prática em vários países do mundo e a sua incorporação no âmbito da saúde pública brasileira”, reitera. Henrique Couto lembra ainda que a questão da incorporação de novas tecnologias é uma questão abrangente que diz respeito a toda a sociedade.
O médico oncologista e coordenador da Oncologia Clínica, Luiz Flávio Coutinho chama a atenção para o fato de que a incorporação das novas tecnologias em oncologia constitui um dilema mundial, uma vez que tais tecnologias são muito caras e, nem sempre, há uma comprovação dos seus benefícios clínicos.
Segundo Luiz Coutinho, é necessário racionalizar a incorporação de novas tecnologias pois “nem tudo que reluz é ouro”. O parâmetro deve ser o custo-efetividade, ou seja, “para otimizar resultados devemos racionalizar os investimentos”, defende.
A pesquisa clínica é o método mais barato e eficaz da população ter acesso a novas tecnologias em teste. Nesse sentido, Luiz Coutinho acredita que o futuro do Hospital Alberto Cavalcanti deve ser construído tendo como base a pesquisa.
Através dos marcadores biológicos é possível realizar uma análise de risco dos pacientes e determinar, por exemplo, a sua expectativa de vida. “O paciente é nosso objeto e também o nosso objetivo. Assim, é necessário focar no ser humano”, diz o professor da FELUMA, Ernesto Araújo que desenvolveu um método de aplicação da lógica difusa em Oncologia.
De acordo com a literatura, marcadores biológicos são componentes celulares, estruturais e bioquímicos que podem definir alterações celulares e moleculares tanto em células normais quanto naquelas associadas a transformações malignas.