Sábado, 16 horas. Duas ambulâncias do SAMU se dirigem para o Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Rede Fhemig, levando 12 pessoas vítimas de intoxicação alimentar. Várias outras vítimas, de um universo de 400 possíveis intoxicados, já estão a caminho, por conta própria, uma vez que o fato ocorreu num bairro nas proximidades.
Após o contato telefônico do SAMU, que informa sobre o encaminhamento das ambulâncias e da possibilidade de um surto de diarreia, é acionado o “Plano de Gerenciamento de Crises” e a equipe do hospital está mobilizada para receber as vítimas.
A situação descrita acima não aconteceu. O cenário foi simulado para permitir que os profissionais do HEM colocassem em prática o Plano de Atendimento a Desastres e Catástrofes (PAD), de modo a reproduzir um dia de trabalho no atendimento a pacientes em situação desta natureza e, assim, deflagrar o Plano de Atendimento a Múltiplas Vítimas do hospital, desenvolvido para a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
Para a realização da simulação foi utilizada a metodologia “tabletop exercise” (exercício sobre mesa) que consiste numa discussão em grupo guiada por uma situação de catástrofe ou desastre. Cerca de 20 profissionais do HEM se reuniram em torno da planta do hospital e, a partir daí, houve a distribuição de papeis, de modo que todos participassem da execução do plano de gerenciamento de crise como se ela estivesse realmente acontecendo.
A simulação foi acompanhada pelo médico português Humberto Machado, da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, instituição que participa da capacitação dos profissionais dos quatro hospitais que irão atuar como referência em Belo Horizonte durante a Copa de 2014.
A presença do grupo de profissionais portugueses se deve à experiência adquirida na elaboração do plano de catástrofe desenvolvido para Portugal em 2004, quando o país sediou a Eurocopa. Devido ao êxito do plano, as determinações propostas foram absorvidas pela legislação portuguesa. Humberto Machado ressaltou que a prática das simulações torna possível aos profissionais vivenciarem as situações de crise e se prepararem antecipadamente para responderem, de forma adequada, aos possíveis desafios no atendimento de múltiplas vítimas.
O médico infectologista Marcelo Oliveira salientou que o plano desenvolvido pelo hospital deverá ser aprimorado ao longo dos diversos treinamentos a serem realizados até junho de 2013, quando o plano será submetido a um teste realístico antes da Copa das Confederações que terá início em 15 de junho. Na ocasião, os quatro hospitais (Eduardo de Menezes, João XXIII, Odilon Behrens e Risoleta Tolentino Neves) terão a oportunidade de executarem os respectivos planos e de agirem de forma coordenada.
Ainda no ano que vem, haverá outra simulação, mas desta vez serão utilizados voluntários que representarão as vítimas, o que irá permitir uma melhor dramatização da situação, além de envolver toda a rede pré e intra-hospitalar.
O Hospital Eduardo de Menezes tem capacidade para atender 30 pacientes em situações de catástrofe, tendo em vista que este número representa 20% do seu número de leitos, percentual preconizado para a atenção em situações de múltiplas vítimas.
É importante salientar que, ainda que não haja ocorrências específicas na área epidemiológica (especialidade do HEM) durante a Copa de 2014, o hospital poderá receber pacientes (na hipótese de situações de crise), caso os demais hospitais esgotem a sua capacidade de atendimento, sublinhou o coordenador médico do Centro de Terapia Intensiva (CTI) do HEM, Frederico Bruzzi de Carvalho.
O Plano de Atendimento a Desastres e Catástrofes é elaborado por cada um dos hospitais que foram escolhidos para comporem a rede de assistência em situações de catástrofes e desastres durante a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 nas 12 cidades-sede. O processo é gerenciado pela Câmara Temática da Saúde para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, formada por representantes do Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde (ANS), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e das 12 cidades e estados que receberão os jogos.
A expectativa do Ministério do Turismo é que o país receba o contingente de 600 mil turistas estrangeiros, além dos outros três milhões de brasileiros que irão se deslocar entre as 12 cidades-sede. Somente em Belo Horizonte, são esperados 200 mil estrangeiros e 430 mil brasileiros. Diante desse universo, a adequada preparação logística é essencial para garantir a segurança de todos que irão participar do evento. Desse modo, os serviços de saúde adquirem papel estratégico na medida em que terão um novo perfil de possíveis pacientes, tanto em termos quantitativos, quanto qualitativos, haja vista a variabilidade do perfil epidemiológico dos turistas.
Outro aspecto significativo do processo de preparação dos serviços de saúde para a Copa do Mundo é o fortalecimento da urgência e emergência no estado, uma vez que os investimentos realizados irão beneficiar, de forma permanente, a população de Minas Gerais.