Em consonância com a política estadual antidrogas, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), por meio do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), realiza, entre hoje (17) e 19 de maio, o seminário “Dependência química e seus desafios”.
Assunto recorrente nos meios de comunicação e tema de debate em um grande número de organizações da sociedade civil, as abordagens dadas à questão do abuso de drogas ilícitas e da dependência química ainda geram polêmica e, de um modo geral, reforçam estereótipos e estigmas, tais como a culpabilização e a criminalização dos usuários.
“É necessário que haja uma estratégia comum a ser compartilhada entre os diversos setores que tratam a questão da dependência química e seus desdobramentos”, explica o diretor do CHPB, Jairo Furtado Toledo. Ainda segundo Toledo, a dependência química representa um desafio para toda a sociedade. “É uma questão complexa que deve ser enfrentada com políticas realistas”, pondera.
Um passo decisivo para a mudança do enquadramento dado à questão é a consolidação do entendimento de que a dependência química é uma doença crônica (que causa sofrimento individual e social) e que, por extensão, o indivíduo dependente é um doente e não um criminoso. Em todo o mundo, um contingente de 200 milhões de pessoas fazem uso de substâncias ilícitas, o que representa 3,4% da população mundial. Em Minas Gerais, somente em relação ao crack, são 340 mil usuários, enquanto no país este número atinge a marca de 1,2 milhão, configurando uma verdadeira epidemia.
Tendo em vista a significativa mudança das características dos atendimentos psiquiátricos, observada nos últimos anos, determinada, principalmente, pelo advento do crack, os serviços de saúde passaram a lidar cotidianamente com situações antes relegadas às esferas não clínicas. O diretor do Instituto Raul Soares (IRS), da Rede Fhemig, Maurício Leão, acredita que “as respostas até então construídas para dar conta da abordagem do doente mental se tornaram insuficientes diante da gravidade dos casos que cada vez mais demandam uma agilidade de respostas ainda mais complexas”.
Atualmente, dos 108 leitos do IRS e dos 115 leitos do Hospital Galba Velloso, 81% e 61%, respectivamente, estão ocupados com usuários de álcool e drogas, informa a diretora do complexo de saúde mental da Rede Fhemig e diretora do Centro Mineiro de Toxicologia, Raquel Pinheiro. “Este seminário, com a participação do Poder Judiciário, tem o objetivo de tentar corrigir essas distorções que causam problemas tanto para os pacientes, quanto para os familiares e funcionários”.
Para o coordenador do ambulatório de dependências químicas do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor do departamento de psiquiatria da mesma instituição, Frederico Garcia, a exposição precoce às drogas constitui um grave problema social. Ele cita recente pesquisa nacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a saúde escolar que mostra que 71% das crianças do 9º ano do ensino fundamental já usaram álcool e 8,7% também experimentaram drogas ilícitas alguma vez em suas vidas. “A prevenção do abuso deve ser a prioridade absoluta, uma vez que há evidências que mostram que a prevenção pode modificar a tendência de aumento do uso de drogas e forçar uma queda das conseqüências sociais”, conclui o professor.
“A decisão de promover o seminário teve como base a necessidade de se amplificar e consolidar a política de saúde estabelecida pelo Governo de Minas que, de forma inédita no país, criou uma secretaria específica para conduzir as ações antidrogas. Ao reunir diversos especialistas no assunto, o seminário busca contribuir para o estabelecimento de parâmetros norteadores, capazes de subsidiar as ações empreendidas pelas diversas instituições que tratam do assunto no estado”, salienta o presidente da Fhemig, Antonio Carlos de Barros Martins.