O Hospital Infantil João Paulo II, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), obteve a segunda colocação no XI Simpósio Brasileiro de Atenção Domiciliar (Sibrad). A premiação é realizada pelo Hospital Albert Einstein e conta com participantes de todo o país.
O projeto intitulado “Impacto do SUS na sustentabilidade econômica de um programa público de assistência domiciliar infanto-juvenil”, apresentado pelo HIJPII, foi o vencedor na categoria “Pesquisa Científica”. A pesquisa desenvolveu um estudo comparativo sobre os custos do “Programa de Assistência Domiciliar” (realizado pela instituição) e o ressarcimento feito pelo SUS para o programa em 2011. O Sistema Único de Saúde (SUS) responde por 17% dos custos do projeto e a Fhemig financia o restante. O HIJPII foi premiado pelo Sibrad outras quatro vezes e em 2000, quando o programa foi criado, foi considerado a Melhor Prática da Rede Fhemig.
O programa nasceu no ano de 2000 e completa 12 anos em abril. Iniciou a partir do programa Fhemig Domiciliar e se expandiu ao longo do tempo. Atualmente são atendidas 120 pessoas, totalizando 650 desde seu início. O público alvo são os pacientes que nunca poderiam deixar o hospital, retirando-os da unidade hospitalar e levando o atendimento médico para o seu domicilio. Para isso, todo o equipamento necessário à realização do cuidado, inclusive o de CTI, é levado para a casa do paciente.
Esse é o caso de doentes progressivos ou que passariam muito tempo internados, mas que têm condições de receber medicação e atendimento em casa. Pacientes com descompensação do diabetes e leishmaniose são exemplos de casos atendidos pelo programa.
Segundo a diretora do HIJPII, Helena Francisca Valadares Maciel, em casos de diabetes, por exemplo, os profissionais irão monitorar o paciente e a família em domicilio, ensinando a dosar a glicose e a aplicar a insulina.
Para os casos de leishmaniose, em que o paciente deve receber medicação venosa por 21 dias, o tratamento também pode ser feito em domicilio. “Esses pacientes recebem alta para serem atendidos em casa”, pontua a diretora.
Outro exemplo são os pacientes com quadro de meningite e que, em razão da doença, tornaram-se paralíticos, gerando uma demanda de atendimento e orientação constantes. Ao integrarem o programa, a permanência no hospital é significativamente reduzida. Atualmente, verifica-se uma redução de 70% do tempo de internação, com reflexos diretos, inclusive, nos gastos com transporte, realizados pelos familiares nas visitas ao paciente.
Dessa forma, o programa humaniza a assistência médica, como também libera a infraestrutura do hospital, levando à desocupação de um leito que seria usado por um longo período de tempo pelo mesmo paciente, sem qualquer prejuízo para o doente. Assim, cada atendimento em domicilio libera dez leitos para outros pacientes. “Há casos de pessoas que ficaram até três anos na CTI e foram atendidos pelo programa”, diz Helena Francisca.
O Programa de Assistência Domiciliar do HIJPII vai ainda mais longe ao permitir que a criança freqüente a escola, algo que não seria possível se ela estivesse internada. “Há pacientes de CTI que hoje freqüentam a escola”, conta a enfermeira Cibele Cardoso de Oliveira. Para que isso seja possível, um cuidador é treinado para fazer o acompanhamento.
As visitas são realizadas por uma equipe multidisciplinar composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, psicólogo, assistente social, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, totalizando 21 profissionais.
A maior parte dos atendimentos em domicilio é feita a pacientes com um quadro de carência social. Portanto, o profissional traça uma “rede social situacional”, isto é, ele avalia se o paciente tem condições de obter os remédios prescritos, de realizar todos os exames necessários e quais são as condições da moradia e da família.
Helena Maciel salienta que a equipe do programa “tem uma visão abrangente da criança, levando em consideração seu contexto social”. Além disso, o contato da família com os profissionais é direto e frequente, o que facilita o tratamento do paciente. Os familiares podem ligar para o profissional a qualquer momento, como no caso de emergências.
Os intervalos entre as visitas dependem da necessidade e do planejamento realizado caso a caso. O fisioterapeuta, por exemplo, é o profissional que visita com mais freqüência um mesmo paciente, mas não é o que atende o maior número de crianças.
O tempo de permanência de um mesmo paciente no programa é grande, alguns deles nunca saem. Muitos hospitais, inclusive do interior, encaminham doentes para que participem do programa do HIJPII. Há casos de famílias que se mudam para Belo Horizonte a fim de usufruírem da assistência.