O clima seco e frio característico do outono e do inverno está chegando e é nesta época que a incidência de doenças respiratórias aumenta. Segundo o pneumologista pediátrico, Wilson Rocha, do Hospital Infantil João Paulo II, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), neste período do ano as pessoas ficam mais suscetíveis a contaminação por viroses respiratórias.
Isso acontece devido à mudança de hábitos das pessoas, que se traduz na preferência por locais fechados, a fim de evitar-se o frio, o que resulta em aglomerações. “Ficar em ambientes sem ventilação facilita a troca de vírus”, alerta o médico, uma vez que a contaminação é feita principalmente de pessoa para pessoa.
O vírus sincicial respiratório é apontado como um dos principais motivos para o aumento das internações de crianças durante os meses frios, principalmente menores de dois anos. O vírus que ataca o pulmão e causa chieira, tosse intensa, dificuldade para respirar e febre baixa pode ser perigoso para crianças debilitadas (como as prematuras) ou as que já tiveram problemas de pulmão, podendo, em casos graves, levar ao óbito.
O clima seco desta estação pode interferir na saúde ao deixar as vias respiratórias mais desidratadas do que o normal, facilitando a entrada de vírus e bactérias nocivos. Assim, é importante manter-se hidratado. No entanto, o médico reitera que se devem evitar os locais muito cheios e com pouca circulação de ar, já que a transmissão de viroses respiratórias se dá de pessoa para pessoa.
Crianças menores de seis meses, que ainda não receberam todas as vacinas, não devem ser expostas a aglomerações, como em shoppings e ônibus. Prevenir é sempre o ideal. Nesse sentido, a higienização correta das mãos, por exemplo, é um ato simples que colabora para a prevenção de doenças respiratórias. Lavar as mãos antes de comer pode evitar a contaminação por vírus e bactérias nocivos à saúde.
Durante o outono e o inverno, outra reclamação comum está relacionada às alergias respiratórias (irritação das vias aéreas). Apesar do número de reclamações neste período aumentarem, Wilson Rocha desmistifica a idéia de que o tempo seco colabora diretamente para a piora das alergias, isso porque uma pessoa alérgica a poeira, na verdade, é alérgica aos ácaros que se encontram nela.
Ácaros são seres microscópios que vivem dentro de casa, principalmente em locais escuros, úmidos e quentes. Tapetes, estofados, armários, bichos de pelúcia e roupas de cama são alguns dos locais preferidos dessa praga doméstica, sendo os colchões locais perfeitos para eles viverem e proliferarem.
Ainda segundo Wilson Rocha, há uma melhora dos pacientes alérgicos a ácaros nesta época do ano, uma vez que esses seres não sobrevivem ao clima muito seco, característico do outono e inverno.
A irritação nas vias aéreas do alérgico é agravada pelas doenças virais comuns deste clima. Em crianças entre um e cinco anos de idade, por exemplo, as viroses são as principais causas do aumento dos sintomas das alergias. A poluição do ar, comum no clima seco, também colabora para a piora do quadro dos alérgicos.
Nesses casos, é importante saber que a alergia à poeira manifesta-se dentro das residências e não ao ar livre. Desse modo, atividades em parques e em locais frescos e arejados são indicadas para se assegurar uma boa saúde.
De qualquer forma, no cuidado com a casa, não há necessidade de eliminar carpetes, cortinas ou qualquer tipo de cobertor (inclusive os de lã), desde que sejam lavados toda semana. Como os ácaros são difíceis de serem exterminados, a lavagem comum, com água e sabão, não é suficiente para se livrar deles, devendo-se enxaguar as roupas de cama, cobertores e roupas mais pesadas com água quente, acima dos 60ºC.
Outra maneira de eliminar os ácaros é deixar as roupas de molho, algumas horas, numa mistura de água e óleo de eucalipto (utilizado em saunas). A casa deve ser limpa com um pano úmido, evitando-se o uso de vassouras, pois levanta poeira. Colchões merecem cuidado especial, já que a descamação natural da pele, a umidade e o calor vindos do corpo e o escuro proporcionado pelos lençóis tornam os colchões locais perfeitos para os ácaros.
A prática popular de expor os colchões ao sol não resolve o problema, pois os ácaros se escondem em seu interior durante a exposição e retornam à superfície a noite. A melhor solução tanto para os colchões, quanto para os estofados é utilizar capas de plástico, napa ou de tecidos especiais, que podem ser compradas em farmácias ou em lojas especializadas.
Os tapetes devem ser lavados usando água quente e aspirados com frequência. Cortinas de tecido devem ser lavadas a seco ou também utilizando água quente. No caso das cortinas estilo painel ou retas do tipo “blackout” (melhor aceitas pelos alérgicos), como também as de vime ou persianas, basta passar um pano úmido. Bichos de pelúcia devem ser lavados a pelo menos cada dois meses utilizando água quente, ou então congelados no freezer por 48 horas dentro de um saco plástico, que também elimina os ácaros.
Há uma série de mitos relacionados ao clima frio e seco. Andar descalço, ingerir alimentos gelados como sorvetes e picolés, sair na chuva sem guarda-chuva, “tomar sereno” e sair do banho sem agasalho. De acordo com Wilson Rocha, tais ações não causam doença alguma. “Não há comprovação científica de que o choque térmico, por exemplo, cause doenças”, orienta o médico.
No entanto, os alérgicos, devido à inflamação das vias aéreas, são mais sensíveis às mudanças bruscas de temperatura, podendo ter uma piora dos sintomas. Além disso, qualquer pessoa que sofre uma mudança agressiva de temperatura gasta muita energia para se reaquecer e, no caso de uma contaminação, essa energia pode fazer falta para o sistema imunológico.