O aumento dos casos de traumas na coluna cervical por mergulho em águas rasas e a gravidade deles constituem uma séria advertência para as conseqüências de tal imprudência. No momento, dos 13 pacientes internados no Hospital João XXIII, com traumatismo raquimedular, seis se acidentaram ao mergulhar em águas rasas.
O neurocirurgião José Augusto Malheiros, especialista em cirurgia espinhal, adverte que acidentes desta natureza quando não são fatais, deixam sequelas muito graves e irreversíveis que comprometem a autonomia e qualidade de vida dos pacientes.
É necessário ter-se muito cuidado com o fundo de cachoeira, rio, lago e piscina, lembrando que a palavra de ordem deve ser o bom senso. O especialista alerta para o fato de que é muito difícil visualizar o fundo desses locais, o que impede saber a real profundidade e também se existem pedras e troncos de árvores, por exemplo, no fundo. Por outro lado, conforme observa o neurocirurgião, a profundidade de um mesmo local pode variar muito. Um ponto pode ser bem fundo e a poucos centímetros ser raso.
Malheiros ressalta que outros números do João XXIII também reforçam a gravidade do quadro. Ao longo do ano passado, foram seis pacientes internados com traumatismo na coluna cervical por mergulho em águas rasas. Agora em 2012, só nos meses de janeiro e fevereiro, período de maior calor foram 10 casos. Todos os acidentados foram homens, jovens adultos.
José Augusto Malheiros explica que grande parte destes acidentes ocorre, sobretudo, quando se pula de cabeça. Dependendo da posição da queda pode se quebrar o pescoço. “Em ocorrências ainda mais graves, ao se bater a cabeça com impacto direto no pescoço, há fratura da coluna cervical, o que na maioria dos casos, deixa a pessoa tetraplégica, ou seja, com paralisia do pescoço para baixo”. O especialista alerta, que, ”dependendo do nível da fratura, pode haver comprometimento da respiração, o que leva a morte, no próprio local do acidente, por mais rápido que seja o socorro.”
O neurocirurgião explica que o trauma mais comum provocado por mergulho em águas rasas é o da coluna cervical e dependendo do impacto provocado, as sequelas podem variar entre a perda de sensibilidade de alguns membros à total impossibilidade de andar.
De acordo com o especialista em cirurgia espinhal, no caso do mergulho de ponta, a lesão pode deixar a vítima tetraplégica, ou seja, com braços e pernas paralisados. Já no mergulho em pé o trauma pode ocorrer na coluna toráxica ou lombar provocando a paralisação das pernas, a chamada paraplegia e distúrbio nos aparelhos urinário e digestivo.
José Augusto Malheiros salienta que “os riscos estão diretamente relacionados com o grau de extensão, intensidade e gravidade da lesão. As sequelas, geralmente, são muito graves e praticamente irreversíveis. Segundo ele, a lesão provocada pelo traumatismo raquimedular sobre o tecido nervoso é irreversível. Se uma célula nervosa morre, não irá surgir outra para substituí-la”, esclarece o especialista. Ele explica que, quanto mais alta for a lesão, mais grave será o quadro neurológico, porque a medula espinhal é a continuação do cérebro e é dela que partem as raízes nervosas que vão dar motricidade e sensibilidade do pescoço para baixo.
Casos extremos
Nos casos mais extremos, se a lesão for muito alta, o paciente pode perder a capacidade de respirar espontaneamente e tornar-se dependente de respiração artificial, não podendo mais viver sem portar um respirador. Malheiros afirma que além de todos os danos e sofrimentos enfrentados pelos pacientes, o custo do tratamento, altamente especializado e demorado, é um dos mais caros para a rede pública de saúde. Ele assinala ainda que ocorre uma drástica redução da expectativa de vida dos acidentados, já que por falta de movimentos, há riscos deles terem outras complicações como embolia e trombose por falta de movimentos.