Com a volta às aulas e a rotina de trabalho dos adultos no início deste novo ano, os cuidados na hora de realizar a faxina diária da casa merecem atenção redobrada. A mistura dos produtos químicos de limpeza comumente utilizados na higienização dos cômodos, em particular do banheiro, pode trazer riscos à saúde de quem os utiliza. “O ideal é usar apenas um produto, proteger as mãos com luvas e, em caso de contato com os olhos, lavar em água corrente deixando escorrer lateralmente”, alerta o coordenador do Serviço de Toxicologia do Hospital João XIII, da Rede Fhemig, Délio Campolina.
Substâncias como a água sanitária (também conhecida como água de lavadeira) que é muito utilizada devido a sua função bactericida e de clareamento de superfícies, têm em sua fórmula o hipoclorito de sódio, além de ser reativa quando combinada a outros produtos à base de amoníaco. Se misturada a detergentes (que apresentam amônia em sua fórmula), causa uma perigosa reação química que libera gases tóxicos prejudiciais ao organismo humano.
Por serem, individualmente, substâncias voláteis, inflamáveis ou muito tóxicas, o seu uso associado pode produzir gases nocivos às vias respiratórias, bem como queimaduras na garganta e nos olhos. Outro fator que pode ser visto como um agravante do problema é o tamanho dos banheiros, uma vez que a ventilação desses locais é limitada e pode acelerar a intoxicação da pessoa.
Além de fazer mal para a saúde, a mistura de agentes químicos degrada o meio ambiente, já que o excesso desses produtos na limpeza doméstica acaba por deteriorar as águas de mananciais. A reação de eutroficação (efeito de poluição das águas por produtos químicos que reagem entre si) é uma alteração da situação das águas e facilita o crescimento de fungos e outras substâncias, como micro organismos, que crescem e modificam o estado natural desse meio causando a mortandade dos peixes.
Muitas vezes, as pessoas exageram na dosagem dos produtos de limpeza e, dependendo da concentração dos componentes desses agentes químicos, as consequências podem ser graves. “As substâncias muito utilizadas para a limpeza de pisos de pedra ou de banheiros podem causar lesões na pele, problemas respiratórios e crises asmáticas nos pacientes, pois libera o ácido clorídrico (HCl) em forma de gás”, enfatiza Délio Campolina.
No rol das substâncias químicas de uso generalizado para a limpeza e que podem agredir a saúde de quem as utiliza, também figura o hipoclorito de sódio ou o “cloro puro”. Muito utilizado para a limpeza de pedras, por seu alto poder clareador, ele apresenta uma concentração de 12% de hipoclorito de sódio, bem maior que a água sanitária (de 0,5% a 1%). Na mesma situação encontram-se a soda cáustica e o nitrato de potássio (popularmente conhecido como “Diabo Verde”). Usados para limpar fornos, desentupir pias ou ralos são extremamente tóxicos.
No ano passado, o HJXXIII atendeu 816 casos de intoxicação por agentes químicos, na maioria quadros de irritação das vias aéreas, crises de asmas, irritação dos olhos e intoxicações graves. Para se proteger dos possíveis riscos, recomenda-se evitar contato das mãos com os olhos nas faxinas, sempre utilizar luvas e fazer a dosagem correta para a solução de limpeza. Ao sentir sintomas de intoxicação, irritação da pele ou dos olhos, a pessoa deve procurar, imediatamente, o posto de saúde mais próximo para receber orientações e/ou ser encaminhada para atendimento.
É preciso lembrar que os acidentes também podem ocorrer com crianças, caso os produtos de limpeza estejam em local de fácil acesso. O mais recomendável é guardar-los em locais altos ou que possam ser trancados. Alguns casos graves podem ocorrer com produtos utilizados para fins estéticos, como a acetona (usada para a retirada de esmalte) e a mistura de água oxigenada com amônia (de uso generalizado na descoloração de pelos) que, se ingerida, pode causar acidentes cáusticos graves.