Apoio ao paciente orienta as ações dos profissionais do Hospital Alberto Cavalcanti

Apoio ao paciente orienta as ações dos profissionais
Foto: Jéssica Gomes
“Nós estamos tão acostumados a atuar de forma conjunta, o sincronismo é de tal ordem, que já sabemos, de antemão, onde cada área irá demandar a outra”, Fabiana Sena, fonoaudióloga do HAC.

O adoecimento é um fato social que afeta a vida do paciente em todas as suas dimensões. Tendo-se em vista o contexto de vulnerabilidade social a que está submetido um grande número desses pacientes, o impacto da doença adquire uma dimensão ainda maior.

 

Por esse motivo, a equipe multiprofissional do Hospital Alberto Cavalcanti, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), orienta a assistência aos doentes com base na análise do seu quadro geral de saúde, de modo a ampliar os resultados do tratamento, como também inserir a pessoa em um novo contexto de atuação social, haja vista que a doença altera, às vezes, significativamente, a capacidade de trabalho e de relacionamento social e pessoal do indivíduo. “A internação implica num ‘corte’ na rotina de vida da pessoa”, pontua a terapeuta ocupacional Cidélia Carmen de Souza.

“O quadro geral é determinante para a alta do paciente, uma vez que o adoecimento não tem uma causa apenas orgânica, ele é multifacetado”, observa a assistente social Cláudia Marra. A prática terapêutica adotada pelo diversos profissionais do HAC não separa o paciente em compartimentos, ela o situa como um sujeito complexo e multidimensional e, a partir desse viés, orienta a assistência a ele prestada. “Nós trabalhamos com as diversas nuances da personalidade do paciente que poderão ter desdobramentos em sua vida fora do hospital”, avalia Cidélia de Souza.

Vulnerabilidade

Por definição, o doente já é alguém que se encontra vulnerável, ao somar-se a isso um perfil sócioeconômico e familiar precário, a sua vulnerabilidade torna-se ainda maior. Principalmente se for levado em conta que o paciente com câncer apresenta um quadro de sofrimento que o fragiliza emocionalmente, dado, dentre outros fatores, o imaginário popular construído em torno da doença. Assim, “a discussão de cada caso e a corrida de leito são determinantes para a visão mais ampla do quadro de saúde do paciente”, ressalta a fisioterapeuta Renata Rossetti.  

Sinergia

A interlocução entre as diferentes especialidades, sem que isso constitua problemas de “invasão de área”, é fator norteador para a assistência, uma vez que todos os profissionais envolvidos no atendimento ao doente têm claro para si que o desempenho coordenado do grupo, e não de cada um individualmente, possibilita a prestação do melhor serviço possível àquele que demanda o atendimento em saúde.

Outro aspecto relevante da multidisciplinaridade do atendimento é o fato de que os diversos profissionais que compõem a equipe atuam como agentes de reforço para a reiteração da comunicação estabelecida entre médico e paciente ao longo do tratamento, “uma vez que cada profissional reelabora as orientações dadas pelos demais, de modo a eliminar possíveis incompreensões por parte da pessoa assistida”, ressalta a coordenadora do serviço de psicologia, Sandra Brito.

Contexto familiar

“Os psicólogos (e os demais profissionais da assistência ao paciente) atuam, também, como ‘mediadores de conflitos familiares’, uma vez que a ‘resolução’ desses conflitos tem reflexos sobre a saúde do paciente”, avalia Sandra Brito. Esse aspecto do mosaico da doença fica claro ao observar-se que, muitas vezes, o indivíduo doente é o único provedor do grupo familiar e que a doença (e/ou suas seqüelas) poderá determinar a necessidade de um rearranjo familiar, no sentido de outros membros assumirem papeis antes desempenhados pela pessoa acometida pela doença.

“A gente trabalha com a ideia de ser produtivo, o que não implica, necessariamente, em produtividade laboral, uma vez que isso pode significar, dentre outras coisas, capacitar a pessoa para a realização de tarefas cotidianas como, por exemplo, abrir um armário ou abotoar a própria roupa”, argumenta a terapeuta ocupacional Cidélia de Souza.

Adaptação

A internação hospitalar pode ser interpretada como um momento da vida do indivíduo que irá trazer desdobramentos para o seu futuro, assim “ela pode ser vivenciada como uma oportunidade de elaboração e autoconstrução do paciente”, destaca a terapeuta.

Nesse sentido, a equipe multiprofissional atua como um catalisador para ações a serem tomadas ao longo da estada do paciente no hospital, como também na pós-internação, momento no qual o apoio ao paciente ganha a dimensão de orientação do indivíduo para as possibilidades de diferentes caminhos a serem por ele tomados ao término de sua permanência na instituição.

Nutrição

A maioria dos pacientes que dão entrada no hospital estão desnutridos, relata a coordenadora do setor de nutrição, Ana Geisa Vieira. Durante a internação, busca-se orientar o paciente para a aquisição de hábitos alimentares adaptados à sua realidade social, um exemplo disso é a adoção da dieta interal artesanal quando o paciente (que não possui condição financeira suficiente) encontra-se de volta ao seu domicílio. Nesses casos, busca-se adaptar os “mecanismos terapêuticos” às reais necessidades do ex-paciente. “Atendemos pessoas que vivem em condições subumanas”, pontua Ana Vieira.


Além do hospital

A preocupação dos profissionais do Hospital Alberto Cavalcanti com o bem estar dos indivíduos por eles assistidos é de tal ordem que são mantidos bancos de dados com informações sobre instituições assistenciais que podem atender o ex-paciente em sua vida pós-internação. Assim, ao receber alta, as pessoas têm orientações sobre como proceder para conseguirem os benefícios ofertados por tais organizações, como, por exemplo, casas de apoio e organizações não governamentais.

Além disso, a equipe de profissionais de saúde que atuam no HAC mantém uma relação de escuta e assistência da família do paciente, até mesmo após a morte deste (atenção pós óbito).