O número de acidentes com a aranha Loxosceles, mais conhecida como “aranha marrom”, triplicou, nos últimos sete anos, no total de atendimentos no Hospital João XXIII, da Rede Fhemig. A unidade, referência estadual em Toxicologia, registrou 10 casos atendidos somente este ano, enquanto a média anterior girava em torno de 4 casos/ ano.
Apesar da liderança de acidentes com as aranhas armadeiras (Phoneutria), que respondem por 77% dos atendimentos, o aumento crescente da incidência da aranha marrom tem preocupado. Isto porque, apesar de sua aparência inofensiva, esta espécie é muito perigosa, pois os sintomas de sua picada demoram a surgir e, quando isso acontece, o tratamento pode ser tardio. Seu veneno tem o poder de necrosar membros ou afetar órgãos vitais, causando até insuficiência renal e, consequentemente, óbito.
O CIAT-BH (Centro de Informações e Assistência Toxicológica)/ Unidade de Toxicologia do HJXXIII atende casos de intoxicação e de acidentes com animais peçonhentos: escorpiões, serpentes, aranhas, lagartas, abelhas, formigas e até mesmo peixes. A maior incidência continua sendo os casos relacionados aos escorpiões, que respondem por 60% da demanda.
Segundo Délio Campolina, coordenador do CIAT-BH, “Os acidentes por Loxosceles são geralmente graves e contribuem com 15% dos atendimentos no grupo de animais peçonhentos.
Esta porcentagem de é de grande importância, porque demonstra uma incidência cada vez maior de um agente que, até há poucos anos, era quase restrita à região Sul do Brasil.” Embora a maior incidência seja em estados do Sul, também é notado um aumento significativo do crescimento populacional da aranha marrom em grandes cidades como São Paulo e Belo Horizonte.
A aranha marrom possui de 2 a 3 cm, não tem pelos, não é agressiva e passa facilmente despercebida pelas pessoas. Ao contrário da aranha caranguejeira, por exemplo, que assusta pelo seu tamanho e comportamento agitado, mas é praticamente inofensiva. A aranha marrom ainda apresenta peculiaridades como: três pares de olhos em formato de triângulo e o corpo com a forma de um violino.
Apesar de viver em matas, árvores, barrancos, troncos e folhagens, atualmente, esta aranha tem se tornado cada vez mais urbana, com maior habilidade de se adaptar dentro das casas, onde acontece a maioria dos acidentes. Ela se esconde, principalmente, dentro de armários e móveis, atrás de quadros, entre roupas e sapatos. A picada acontece quando a aranha é comprimida contra o corpo e reage, quando se calça um sapato, por exemplo.
A vítima da aranha marrom não percebe, de imediato, a gravidade do acidente. Normalmente, confunde o edema com uma picada de mosquito, farpa ou outro pequeno ferimento. Porém, cerca de doze horas depois, o local começa a doer, a ficar vermelho, inchado e com bolhas, semelhante a uma queimadura. A lesão pode evoluir até chegar a necrosar o membro atingido. A pessoa ainda pode ter febre, mal-estar e apresentar urina de cor escura, entre outros sintomas.
Caso seja picado, a orientação dos especialistas do CIAT é de não perder tempo com medidas caseiras e procurar atendimento o mais rápido possível, mesmo que os sintomas não tenham se manifestado. O tratamento é feito com soroterapia e outros medicamentos para minimizar os efeitos causados pelo veneno.