Fhemig celebra Dia da Consciência Negra




A Fhemig recebeu no dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra - um debate sobre racismo institucional e preconceito nas relações de trabalho. Estigmas, adoecimento, chances de ascensão e crescimento na carreira, mulheres negras em cargos de chefia e representatividade foram alguns dos temas abordados. O evento ocorreu no auditório da Administração Central (ADC) e foi aberto ao público geral. 

A jornalista, publicitária e gerente de prevenção à letalidade juvenil na Prefeitura de Belo Horizonte, Etiene Martins, foi uma das palestrantes e abordou, entre outros assuntos, as agressões cotidianas que as pessoas negras sofrem institucionalmente desde o início da vida escolar até o mercado de trabalho. “Há quem busque justificar o porquê de alguém sofrer racismo no trabalho com argumentos como ‘falta postura’, ‘a pessoa não se posiciona’, ‘anda de cabeça baixa’, ‘não é firme’, culpabilizando de todas as formas a vítima por ser oprimida no ambiente de trabalho e não o agressor. Quando se fala de racismo, muita gente imagina que só possa ocorrer quando bem declarado, escancarado... mas existem diversas micro agressões que o povo negro vive todos os dias. E o primeiro contato que se tem com o racismo, geralmente, é na escola. Como chegar à vida adulta com uma boa autoestima, bem resolvido? Como ter postura e se impor no ambiente de trabalho? Na maior parte das vezes, a pessoa já está adoecida por uma vida de violência contínua por causa do cabelo crespo, do nariz, do turbante... Daí, se sofreu racismo e ficou calado, é culpado. Se denuncia, é mimimi ou vitimismo e não deveria ligar para isso. Precisamos pensar mais sobre a culpabilização da vítima”, explicou.


Para Etiene Martins, "é preciso refletir sobre a cor de quem ganha mais e a cor de quem ganha menos"


Etiene também falou sobre a diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras. “Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), divulgada em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que mulheres negras ganham quase 70% a menos que homens brancos, exercendo a mesma atividade ou função. A sociedade ainda estranha quando pessoas negras ocupam postos mais altos hierarquicamente. É preciso desconstruir no mercado de trabalho essa visão originária da escravidão. E refletirmos sobre a cor de quem ganha mais e a cor de quem ganha menos”, concluiu. 

A mestre em Gestão Social, professora de Direitos Humanos da PUC Minas, coordenadora do Coletivo Nzinga e ativista dos movimentos negro e feminista, Benilda de Brito, ressaltou que é necessário ter como ponto de partida para a discussão sobre racismo a noção da existência da desigualdade, que estrutura profundamente a sociedade brasileira. “O Brasil foi o maior importador de escravos em toda a história do tráfico negreiro, o penúltimo país a acabar com o tráfico e último a abolir a escravidão nas Américas. Reconhecer o fim do mito da democracia racial e entender que somos uma nação racista é uma conquista histórica e relativamente recente do movimento negro, a partir de muita luta, embates e debates na sociedade e nas instâncias de poder público.”, disse.

Benilda abordou ainda a diferença entre os conceitos de discriminação racial, preconceito e racismo. “Discriminação racial é qualquer distinção ou restrição baseada na raça, ascendência, origem étnica ou nacional com finalidade de dificultar ou impedir o reconhecimento e exercício aos direitos humanos e liberdades fundamentais. Preconceito, por sua vez, é uma opinião que se emite antecipadamente, sem contar com informações suficientes para poder emitir um verdadeiro julgamento fundamentado. Exemplo disso é a intolerância às religiões de matriz africana que, muitas vezes, deriva de desconhecimento e ignorância a respeito do tema. Por fim, o racismo é a convicção de que existe uma relação entre as características físicas hereditárias, como a cor da pele, e determinados traços de caráter, inteligência ou manifestações culturais. Ao longo da história, a crença na existência de raças superiores e inferiores foi utilizada para justificar a escravidão ou domínio de determinados povos por outros”, explicou.


Apresentação musical de Luiza Da Iola

O evento contou com a performance musical da artista mineira Luiza Da Iola, que apresentou à capela canções de afropop - gênero inspirado em referências como o samba, blues, jazz, R&B, soul, rap, hip hop e ritmos afro-latinos. Natural de Carmópolis de Minas, Luiza teve formação artística e musical em renomados grupos culturais da capital, como Tambor Mineiro, Escola Livre de Artes e Fundação Clóvis Salgado.

Ação interna na ADC

Além do evento, a Administração Central da Fhemig promoveu uma ação de conscientização, com cartazes espalhados pelos corredores do prédio, contendo frases racistas que ainda circulam com certa frequência na sociedade, acompanhadas das hashtags #issoéracismo e #20denovembro.




A coordenadora de Relações Públicas da Assessoria de Comunicação Social (ACS) da Fhemig, Juliana Cota, explica que a finalidade da iniciativa é despertar a reflexão para a temática. “São frases ditas corriqueiramente pelas pessoas no dia a dia. Muita gente não consegue ver racismo, acha que é brincadeira. A questão é de extrema importância justamente para reforçar que o racismo existe e que é necessário fazer essa reflexão, aprender a ouvir o outro, ter consciência de todo o processo histórico que permeia as questões raciais e conseguir entender a existência das diferenças e da necessidade do respeito”, concluiu.