Isso tudo estará disponível no Centro de Tecidos Biológicos (Cetebio) de Minas Gerais, ligado à Fundação Hemominas, que será o primeiro banco de tecidos integrado da América Latina. A construção do complexo terá início este ano, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), distante cerca de 35 quilômetros da capital. No Brasil, há centros isolados, como o Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre (RS), o Banco de Tecido Musculoesquelético do Hospital das Clínicas de Curitiba (PR) e os bancos de cordão umbilical no Distrito Federal e nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Pará e Amazonas.
O Cetebio mineiro vai funcionar como um grande fornecedor de insumos de uso clínico para hospitais credenciados. "Os produtos gerados pelo Cetebio são pele, sangues raros, peças ósseas, grânulos ósseos, tendões, sangue de cordão umbilical. "Produtos" necessários para cirurgias ortopédicas, queimaduras graves, enxertos, para tratar pacientes que precisam de determinadas hemácias. Teremos ainda o banco de sangue de cordão umbilical e placentário, que fornecerá material para médicos, cujos pacientes têm leucemia, linfoma e outras patologias, enfim, teremos um grande leque de produtos na área de saúde", explica a coordenadora do Cetebio, a administradora pública Daniela Marra.
Todos esses materiais só podem ser obtidos mediante a doação de tecidos de pacientes falecidos. O procedimento para captação dos doadores será feito em parceria com o MG Transplantes e também com o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão no país que controla as doações feitas por parentes de pessoas que vão a óbito. Além do trabalho de captação dos tecidos, os procedimentos para tratar todo esse material são de alta complexidade.
"Exigem muita segurança, metodologia rigorosa, capacitação dos profissionais envolvidos, técnicas extremamente refinadas de conservação, manipulação e tratamento do material. Uma grande vantagem é que, desde setembro, estamos desenvolvendo o projeto-piloto do Banco de Pele, instalado no Setor de Queimados do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, e, para isso, desenvolvemos todos os métodos de validação do processo, seguindo as mais rígidas normas internacionais", explica a bióloga integrante do projeto do Cetebio Flávia Marques de Melo.
Flávia esclarece que o processo de retirada dos tecidos do corpo do doador falecido é feito em sala de cirurgia, seguindo normas técnicas para o procedimento. " A retirada de ossos, músculos, ligamentos e tendões, tudo feito com muita técnica, respeito. Depois disso, o corpo é totalmente reconstituído, para que a família possa enterrar seu parente dignamente", explica.
Segundo Daniela Marra, além da importância para a saúde, o Cetebio tem um papel social e solidário da mais alta significação: "No caso de sangues raros, às vezes, temos um ou dois doadores com características em seu sangue que poderiam ajudar pacientes específicos em toda Minas Gerais; a pele tem uma capacidade inimaginável de elasticidade, sendo que uma doação pode ajudar vários pacientes. Um queimado de terceiro grau, que teve 80% do corpo atingido, usa uma camada bem fina desse curativo biológico, que tem um poder de diminuir a probabilidade de infecções, atenuar a dor e promover a cicatrização da queimadura. Os tendões também podem ser usados em mais de um paciente; já o sangue do cordão umbilical e a medula óssea têm células multipotentes capazes de produzir qualquer célula sanguínea", acrescenta a coordenadora.
MAIS DE UMA DÉCADA DE CONSTRUÇÃO
A ideia de criação do Cetebio remete ao ano de 2000, quando a hematologista Anna Bárbara Proietti, então presidente da Fundação Hemominas, fazia curso de especialização na França e visitou um dos maiores centros de tecido do mundo, em Seattle, nos Estados Unidos. Alguns anos depois, ela conseguiu firmar cooperação técnica com o Héma-Québec, hemocentro público do Canadá, e, para a consolidação do projeto mineiro, foi mais algum tempo para alinhavar a grande ideia, que terá seu marco mais importante, o início das obras físicas do complexo, em breve. "Além das obras, começamos amanhã, o I Encontro Cetebio, em Belo Horizonte, cujo tema será "Estudos técnicos sobre bancos multitecidos", e que vai reunir todos os nossos parceiros para discutirmos controle de qualidade, uso, regulações e normas", explica a médica.
Segundo Anna Bárbara, o primeiro evento do Cetebio, que vai até quarta-feira, é de suma importância para que o centro mineiro já nasça como centro de pesquisa e aperfeiçoamento de técnicas na manipulação de tecidos. "Este é um campo em evolução e, as pesquisas na área serão muito importantes para aumentar os usos e a segurança, além de inovar e ter grande potencial para a produção de patentes para Minas Gerais", acrescenta.
Os custos da primeira etapa de construção do Cetebio, quando serão instalados, ainda este ano, os bancos de medula óssea, sangue de cordão umbilical e sangues raros estão sendo financiados pelo governo de Minas Gerais e estão orçados em aproximadamente R$ 6,6 milhões. A segunda etapa de construção incluirá os bancos de musculoesqueléticos, válvulas cardíacas e pele, assim como laboratórios de pesquisa e controle de qualidade dos produtos. O investimento total para implantação do Cetebio é estimado em R$ 19 milhões, em quatro anos, sendo que parte desses recursos é custeada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) – para equipamentos e pesquisa; governo do estado – obras civis e adequações; e Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) – banco de sangue de cordão umbilical. De 2008 até agora, foram gastos aproximadamente R$ 2,5 milhões com a execução da validação dos bancos de pele, sangues raros e tecidos musculoesqueléticos com objetivo de garantir a qualidade dos produtos e processos de modo a viabilizar o funcionamento do Cetebio, conforme a legislação vigente e os padrões internacionais de qualidade.
POR DENTRO DO COMPLEXO
Localizado em distrito industrial de Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, inserido na Área de Proteção Especial de Confins (APE Confins), em área de 6.501,57 metros quadrados e 3.600 m2 de área construída.
Vai abrigar:
Banco de Sangues Raros
Mantém estoque de unidades sanguíneas raras e permite sua rápida disponibilização para transfusão em pacientes que necessitam desse material
Banco de Válvulas Cardíacas
Estoque de válvulas cardíacas para transplantes, enxertos (hoje são feitos com válvulas suínas e mecânicas)
Banco de Tecidos Musculoesqueléticos
Vai oferecer peças ósseas e tecidos musculares para tratar pacientes com doenças degenerativas, vítimas de politraumatismos e outras enfermidades
Banco de pele
Terá pele alógena para ser enxertada em pacientes com queimaduras de alto grau e outros traumas
Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário e Banco de Medula Óssea
Vai disponibilizar unidades de células-tronco hematopoieticas (células multipotentes, que podem produzir qualquer célula do sangue), que servem para tratar pacientes com lesões na medula, doenças autoimunes, portadores de doençs hematológicas e onco-hematológicas
Fonte: Jornal Estado de Minas