“Esta cirurgia é um presente para mim”, resume Shely Bueno de Souza, de 51 anos de idade, uma das contempladas pelo mutirão e que aguarda, há um ano, na fila do SUS. Residente em Itapecerica, Shely deu entrada no HAC no domingo e espera ser liberada nesta terça-feira (06/03). Curada do câncer de mama há oito anos, ela considera a reconstrução tão importante quanto a cura. “Somente uma mulher pode entender o que significa a perda de uma mama. Vou sair daqui feliz e continuar minha vida normalmente”, garante.
A recepcionista Ilza Maria da Silva, de 45 anos, foi submetida a uma mastectomia total do seio esquerdo em 2005. Ela conta que se tornou uma verdadeira “personalidade pública” na pequena Raul Soares, município situado na zona da mata, que tem pouco mais de 23 mil habitantes. “Na minha cidade, as pessoas nem falam o nome da doença. Toda vez que eu saia de casa, era abordada por várias mulheres que vinham me perguntar sobre o câncer de mama e as suas conseqüências”, revela Ilza que, assim como Shely, aguardava a sua vez na fila do SUS.
O relato de Ilza da Silva ilustra bem o estigma que ronda o câncer, resultante, dentre outras razões, da falta de informação sobre a doença. Apesar das numerosas campanhas promovidas por diversos órgãos de saúde, ainda é grande o número de mulheres que nunca se submeteram à mamografia ou que, sequer, realizam o autoexame. Felizmente, este não é o caso de Ilza. Foi durante a rotina do autoexame que ela percebeu que havia algo de errado com o seio esquerdo e procurou um médico.
Quando se restabelecer da reconstrução mamária, a primeira coisa que Ilza vai fazer será colocar um biquíni e ir ao clube com suas amigas. “Depois que perdi o seio, nunca mais coloquei um biquíni. Quando retornar para minha cidade, toda a minha família estará me esperando para comemorarmos essa nova fase de minha vida”, conta.
As cirurgias acontecem desde ontem (05/03) e se estendem até a próxima sexta-feira (09/03), quando a SBCP pretende somar 350 cirurgias no país. Para se ter uma ideia da complexidade do procedimento, leva-se em torno de seis horas para se realizar cada cirurgia, que requer a presença de, no mínimo, três cirurgiões plásticos. Assim, em todo o país, terá lugar uma verdadeira maratona que irá consumir algo em torno de duas mil horas de trabalho.
A participação do HAC insere-se no mutirão nacional convocado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e que contempla, em Minas Gerais, cinco cidades, dentre elas a capital, num total de 11 hospitais participantes. Em Belo Horizonte, além do Hospital Alberto Cavalcanti, sete outras instituições compõem a força tarefa mineira que irá atender cerca de quarenta mulheres até o dia 08 de março.
O cirurgião plástico Cláudio Salum Castro, médico do quadro efetivo do HAC e, desde janeiro deste ano, presidente da SBCP (regional Minas Gerais), salienta que a “causa” da reconstrução mamária figura em sua pauta de prioridades desde 1993. O médico afirma que a realidade da fila para esse tipo de cirurgia muda de estado para estado. Em Minas Gerais, ela não é tão grande quanto em outras unidades da federação. “É muito gratificante para nós poder contribuir para a diminuição da fila, uma vez isso implica na diminuição do sofrimento de um número significativo de mulheres”, pondera Cláudio Salum.
Ainda segundo o presidente da SBCP/MG, a participação dos cirurgiões plásticos numa campanha dessa natureza visa, também, inserir os profissionais no contexto da responsabilidade social que a entidade está envolvida. “Sabemos da importância da cirurgia plástica reconstrutora e das dificuldades que o paciente mais carente encontra para realizá-la, daí a SBCP achar que pode colaborar com essa situação”, pontua.
Desde o início do programa da SBCP (em 2010) foram realizadas 700 intervenções cirúrgicas em todo o país. No estado, nos últimos dois anos, contabilizam-se 186 procedimentos nas modalidades de câncer de pele, pálpebra (blefaroplastia) e redução de mama.