Oito e meia da manhã de uma quarta-feira, a equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC) está pronta para iniciar mais um dia de trabalho. No veículo, cinco membros do grupo discutem o estado de saúde dos pacientes a serem visitados. Ao chegarem ao primeiro destino, são recebidos com carinho, como habitualmente acontece.
Em ação há quatro meses, a equipe do HAC insere-se num contexto no qual ainda figuram poucos serviços da mesma natureza, seja na rede pública ou privada. Seu processo de formação estendeu-se por cinco anos e está alicerçado na premissa da atenção multi e interdisciplinar aos doentes não mais sujeitos a outros tipos de procedimentos terapêuticos.
A prática dos cuidados paliativos baseia-se em requisitos pessoais e coletivos, em especial na capacidade de agir de forma compassiva, solidária e humilde, além de estabelecer uma comunicação efetiva com os pacientes.
Entre um curativo, uma massagem e orientações sobre a melhor forma de lidar com os sintomas (dentre outras ações), ao longo do atendimento, inserem-se, de maneira natural, palavras de conforto e mútuo carinho. O paciente retribui com a melhora de sua saúde emocional, que produz reflexos em seu estado geral.
Cada pessoa vivencia a situação ao seu modo. Há os que negam, sentem raiva, barganham, ficam deprimidos e os que, após percorrem os estágios anteriores, finalmente aceitam e encaram seu estado com serenidade. Em comum, eles têm o reconhecimento pelos cuidados que lhes são dispensados pela equipe do HAC.
“Eu acho agradável ter estas pessoas comigo. Para mim, a vinda do grupo representa momentos de atenção, tratamento e escuta. A presença deles me incentiva e não deixa que eu entre em depressão”, explica Carlos Morais Soares, eletricista autônomo e músico, de 43 anos. “Eles trazem, além dos cuidados, palavras de conforto, baseadas na realidade da situação, sem criar falsas expectativas”, completa a mãe de Carlos, Maria Morais da Silva.
Doente há dois anos, o caminhoneiro e barbeiro aposentado, Olindo Massenssini, de 61 anos, se permite expressar sua dor. “O paciente tem que aceitar a doença, dominá-la, porque o verdadeiro conforto somente vem de Deus. Ter por perto quem nos quer bem ajuda muito, mas a dor é terrível, a gente tem que chorar, por para fora. Tem que pedir muita força a Deus, ter fé, porque essa doença não é brincadeira”, confessa Olindo. Sua esposa, Luce Lea da Silva Massenssini, conta que tenta apoiá-lo em tudo e estar sempre presente. “Eu procuro confortá-lo, rezo com ele. Sem o grupo dos cuidados paliativos, eu não saberia o que fazer, porque eles nos amparam”, finaliza.