O trabalho desenvolvido pela equipe de nutrição do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), recebeu menção honrosa no XIX Congresso Brasileiro de Nutrição Parenteral e Enteral, evento que se constitui na principal atividade da área, no âmbito da América Latina.
Intitulado “Risco Nutricional e sua Associação com o Tempo e Desfecho da Internação de Pacientes com AIDS em um Hospital de Referência em Infectologia de Belo Horizonte”, o trabalho adquire importância na medida que a identificação do risco nutricional pode mudar o quadro de saúde do paciente com HIV/AIDS, de modo a evitar-se possíveis complicações, conforme ressalta o especialista em Terapia Nutricional e membro da equipe de nutrição, Aguinaldo Bicalho Ervilha Júnior.
O estudo pode ser interpretado como original, dado o fato que, com base nos levantamentos pré-pesquisa realizados, não foram identificadas publicações nacionais que associassem o risco nutricional de indivíduos infectados pelo vírus do HIV com o tempo e o desfecho da internação.
A pesquisa identificou que as medidas nutricionais devem ser consideradas como parte integrante dos cuidados de saúde dispensados ao paciente diagnosticado positivamente para a AIDS, adquirindo o caráter de valioso instrumento na terapêutica clínica e dietética. O trabalho foi desenvolvido em consonância com os pressupostos da Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual recomenda que as intervenções nutricionais devem fazer parte de todos os programas de controle e tratamento da doença. Isso porque a dieta e a nutrição carregam em si o poder de melhorar a adesão e a efetividade da terapia antirretroviral.
A maioria dos pacientes observados (74,8 %) apresentou risco nutricional. Também se verificou que o tempo médio de internação foi de, aproximadamente, 22 dias, ao passo que pouco mais que a metade dos pacientes (50,4%) ficou por mais de 18 dias no hospital. Dos internos, 12,6 % morreram. Diante desse quadro, pode-se estabelecer uma associação estatisticamente significativa entre o diagnóstico nutricional e o tempo de internação. Assim, é possível afirmar-se que pacientes com risco nutricional têm mais chances de permanecerem internados por mais tempo.
Do mesmo modo, verificou-se que pacientes com risco nutricional e com maior tempo de permanência hospitalar estão mais sujeitos a morrerem. Portanto, o risco nutricional aumenta o período de internação dos pacientes com AIDS o que pode levar a um aumento da possibilidade de morte.
De modo geral, dentro das 24 horas, a partir do momento em que o paciente entra no hospital, é realizada a triagem nutricional que consiste na abordagem do doente ou dos seus familiares, com o objetivo da identificação do seu risco nutricional. A triagem é feita por meio da medição do Índice de Massa Corpórea (IMC) e de perguntas sobre a perda de peso não intencional em três meses, perda de apetite, capacidade de ingestão de alimentos, absorção de nutrientes e o estresse causado pela doença. Concluída essa investigação, os doentes identificados como em risco devem ser avaliados nutricionalmente, a fim de identificar-se alterações nutricionais em estágio inicial, de forma a evitar-se repercussões clínicas associadas a esse tipo de quadro.
A equipe é formada pelas nutricionistas do Centro Universitário Newton Paiva, Juliana Ferreira Perrut, Elaene Pereira Santos e Bruna Rodrigues Oliveira (instituição que mantém convênio com o HEM) que, na condição de estagiárias do último período da graduação em nutrição e por sugestão do médico Aguinaldo Bicalho, desenvolveram o tema, com a colaboração da mestre em Educação em Saúde, Angélica Cotta Leite Lobo Carneiro, da mestre em Epidemiologia, Graziella Lage Oliveira, do especialista em Terapia Nutricional, Aguinaldo Bicalho Ervilha Júnior e da especialista em Nutrição Esportiva, Rosana Curvelo Pacheco. Com o trabalho, o HEM reforça a sua vocação para a realização de pesquisas e o treinamento de profissionais no âmbito da AIDS.
Em todo o mundo, mais de 60 milhões de pessoas são portadoras do vírus. Em território nacional, desde o primeiro caso diagnosticado, em 1982, foram notificados quase 593 mil ocorrências e mais de 229 mil óbitos, o que torna a AIDS uma das mais significativas epidemias da história da humanidade.