Tema da aula magna do “1º Simpósio de Investigação em Oncologia” do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), a prevenção primária adquire papel crucial para que os indivíduos não venham a desenvolver o câncer.
Para que essa premissa ganhe materialidade, é necessário que cada indivíduo se responsabilize, pessoalmente, por sua saúde adotando a prática da prevenção primária. De acordo com o oncologista Roberto Carlos Duarte, somente assim será possível transformar o cenário que hoje se delineia, ou seja, sete milhões de óbitos anuais, em todo o mundo, em consequência dos diversos tipos de cânceres.
A discussão em torno da questão adquiriu tal magnitude, que a Organização das Nações Unidas (ONU) irá promover, no próximo dia 19, uma Conferência de Cúpula para tratar do assunto. A iniciativa da ONU deve-se ao fato de que as doenças crônico-degenerativas (cardiovasculares, cânceres, respiratórias crônicas e diabetes) constituem-se, atualmente, no maior problema de saúde mundial.
Responsáveis por 60% dos óbitos em todo o mundo, essas doenças, a cada ano, ceifam a vida de 35 milhões de pessoas, 80% das quais em países de baixa renda. No Brasil, 72% das mortes ocorrem em razão de tal grupo de moléstias. A boa notícia é que de todas as doenças crônico-degenerativas, o câncer é a mais prevenível e a mais curável.
“Prevenção primária é aquela que o indivíduo pode adotar por si mesmo, de modo que ele não venha a desenvolver a doença”, reitera o professor e oncologista do HAC. Assim, faz-se necessário que as pessoas incorporem, à sua rotina de vida, hábitos que, em seu conjunto, vão contribuir para o estabelecimento de uma espécie de “seguro” contra a doença.
Nesse sentido, Roberto Duarte, destaca a contribuição dada pela Escola de Saúde Pública de Harvard (uma das mais conceituadas instituições de pesquisa em saúde do mundo) que listou sete maneiras, efetivas, de evitar-se o câncer. “Se você mantiver o seu peso saudável, praticar 30 minutos de atividade física diária, não fumar, adotar uma dieta saudável (limitando o consumo de carne vermelha), reduzir o álcool, proteger-se do sol, bem como das doenças sexualmente transmissíveis, irá reduzir, consideravelmente, a probabilidade de vir a desenvolver um câncer”, recomenda o professor.
Outro elemento essencial da equação da prevenção primária é o controle do stress, haja vista que ele é a porta de entrada para quase todas as doenças. Roberto Duarte chama a atenção para o fato de que “você é o que você faz continuamente”. Portanto, a forma como as pessoas pensam e agem, em seu dia a dia, tem um reflexo imediato sobre a sua saúde.
O câncer é uma doença crônica, 100% genética e, nem sempre, hereditária que, embora prevenível, mata mais que a AIDS, a tuberculose e a malária juntas. Nesse contexto, o câncer de colo uterino é a segunda causa de morte feminina nos países em desenvolvimento. Apesar dos avanços obtidos, o Brasil ainda está no mesmo patamar dos países subdesenvolvidos em relação aos diversos tipos de cânceres.
Antes, acreditava-se que 75% dos cânceres estavam ligados ao estilo de vida (fatores ambientais). Hoje, tem-se claro que de 30% a 40% dos cânceres estão ligados às atitudes dos indivíduos. Assim, com a prevenção primária, torna-se possível evitar-se 7.300 óbitos por dia em todo o mundo.
Outro aspecto que merece destaque é o fato de que o maior risco para o câncer é o envelhecimento. Portanto, na faixa etária de 45 a 49 anos, ocorrem 300 casos, ao passo que, na faixa de 80 a 84 anos esse número salta para 2.500 casos.
O cigarro provoca 12 tipos de cânceres é não só o de pulmão. No entanto, o primeiro grande vilão é o sol, devido à exposição sem critérios. O câncer de pele está intimamente ligado ao hábito de exposição à radiação solar (80% dos casos relacinam-se, de alguma forma, à incidência dos raios solares sobre a pele). Para se ter uma ideia da amplitude do problema, em 2010, foram registrados 700 mil casos de câncer de pele nos EUA. No Brasil, o câncer de pele é o de maior incidência. Desse modo, o uso do protetor solar deve tornar-se um hábito. Os médicos recomendam o uso de protetores com fator de 25 a 30.