Mutirão de Dermatologia: 10 anos de solidariedade

O grupo de profissionais em uma das cidades atendidas
Foto: Divulgação
O grupo de profissionais em uma das cidades atendidas

Atividade obrigatória do programa de Residência Médica em Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), o atendimento em dermatologia sanitária, realizado no interior de Minas Gerais completa, hoje, dia 11, dez anos de ação e quase quinze mil consultas distribuídas por treze cidades.

 

Com uma equipe de cinquenta profissionais do hospital, dos quais apenas os residentes têm participação obrigatória, (daí o caráter voluntário) uma vez por ano, em geral nos finais de semana, o mutirão leva solidariedade às populações ao realizar consultas e cirurgias dermatológicas. Além disso, são feitos os encaminhamentos necessários, inclusive para o HEM. A permanência em cada localidade varia de um a três dias, com jornadas diárias de cerca de 10 horas, o que dá uma média de 150 atendimentos por hora.

Ao longo dos anos, o trabalho do mutirão adquiriu um papel que ultrapassa a formação dos futuros médicos. Ele busca democratizar o acesso aos tratamentos, na medida em que vai até os pacientes (inclusive os internos em instituições prisionais) para realizar não somente as consultas, tratamentos e cirurgias necessárias, mas também diagnósticos precoces, (de modo a eliminar os focos de determinadas patologias, em especial da hanseníase), bem como exames de coletividade, isto é, a identificação de doenças que ainda não estão aparentes, mas que poderão vir a manifestar-se num futuro próximo.

“É preciso desconstruir a ideia de que a dermatologia é uma área que atende somente a elite”, ressalta a médica e coordenadora da Residência em Dermatologia e do Mutirão, Sandra Lyon. Essa premissa social também é destacada pelo diretor do HEM, Paulo Sérgio Dias Araújo, que reitera o fato de que o mutirão possui duas vertentes que se complementam, “ele adquire um papel fundamental, na medida em que leva os serviços de dermatologia às populações carentes, além de ser determinante para a formação dos residentes”.

Ex-residente e atual dermatologista do HEM, a médica Juliana Cunha Sarubi Noviello é um exemplo da efetividade da formação proporcionada pela prática dos mutirões. Segundo ela, o conhecimento adquirido é crucial para o aprimoramento da formação médica, na medida em que põe os profissionais em contato com doenças que, no dia a dia, não se tem tanta proximidade. “O ganho maior é da prática porque nos permite adquirir segurança ao realizar os diagnósticos”, salienta Noviello.

Início e desenvolvimento

A lembrança da primeira ação ainda está bastante presente na memória daqueles que dela participaram. Era o ano de 2001, munidos de boa vontade e disposição para trabalhar, um grupo de cerca de 40 pessoas, dentre elas os então residentes de Dermatologia, (haja vista que a Residência já nasceu atenta à sua missão social), partiu para a cidade de Itaobim (na região do Vale do Jequitinhonha), a 620 km de Belo Horizonte e com uma população de 21 mil habitantes. Em quatro dias, foram realizadas mil e duzentas consultas.

A experiência foi tão marcante que, cinco meses depois, o grupo seguiu para Itambacuri (no Vale do Rio Doce) e atendeu mais 1.346 homens e mulheres que apresentavam diversas doenças de pele, dentre elas o câncer. No ano seguinte, tiveram início as cirurgias, num total de 131 intervenções, além das consultas que somaram 1.054. Daí por diante, a montagem de uma pequena “clínica cirúrgica” em cada uma das diversas localidades tornou-se rotina. “Buscamos um diagnóstico da situação de saúde da região, a partir do próprio local. Isso traz uma compreensão do contexto em que esses pacientes estão inseridos”, pontua a médica que atua a sete anos no mutirão, Patrícia Freire.

Caráter humanitário

Como lembra a assistente social e responsável pela logística das ações, Luciana Paione, em razão dos bons resultados obtidos nos três primeiros anos de atuação do mutirão, a Coordenação Estadual de Hanseníase de Minas Gerais, em 2004, passou a solicitar a presença dos atendimentos em áreas de grande incidência da doença.

“Nesses anos todos, nós já examinamos milhares de pessoas, fizemos centenas de cirurgias de câncer de pele e realizamos muitos diagnósticos precoces. Com isso buscamos não somente atender a população, mas também levar os médicos residentes a terem uma visão social da prática dermatológica. É essencial que os dermatologistas ampliem o seu foco”, salienta Sandra Lyon.

Lyon faz questão de frisar que a maioria dos médicos dermatologistas que hoje atuam no HEM são oriundos das residências ou dos estágios, o que significa que o trabalho de conscientização em torno da importância da dermatologia sanitária tem gerado frutos, haja vista que esses profissionais já iniciam suas carreiras imbuídos do caráter humanitário.