O tabagismo é considerado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal causa de morte evitável em todo o planeta. O total de óbitos devido ao uso do tabaco atingiu a marca de 4,9 milhões por ano, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia. No Brasil, o tabagismo é responsável por 200 mil mortes por ano (uma média de 23 pessoas por hora), de acordo com informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Os números alarmantes reforçam a necessidade da conscientização sobre os malefícios causados pelo tabagismo. O Dia Nacional de Combate ao Fumo, criado em 1986, pela Lei Federal nº. 7.488, tem como objetivo o reforço das ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco. A data é celebrada no dia 29 de agosto.
O cigarro pode causar diferentes tipos de câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias, impotência sexual no homem, infertilidade na mulher, osteoporose, catarata e outros 50 tipos de doenças. A fumaça do cigarro contém mais de 4.700 elementos tóxicos, incluindo arsênico, amônia, monóxido de carbono, além de substâncias cancerígenas, corantes e agrotóxicos em altas concentrações.
O Hospital Júlia Kubitscheck, da Rede Fhemig, referência estadual para doenças respiratórias, tem um ambulatório destinado ao tratamento de tabagistas, aberto aos pacientes (que estejam internados ou em outros tratamentos) e funcionários da instituição que desejam parar de fumar. As consultas são realizadas às quartas e sextas-feiras.
O paciente é acompanhado durante 12 meses. Há um retorno após três semanas da primeira avaliação; retornos mensais, posteriormente; e trimestrais, até a alta. O tratamento é feito por meio da terapia cognitivo comportamental e, se necessário, com uso de medicamentos específicos. “O fumante desenvolve uma dependência física e psíquica à nicotina. Por isso, quem fuma tende a ter várias tentativas frustradas de abandono do vício. Ao parar de fumar, a sensação de perda é semelhante à de um ente querido. A pessoa pode ficar desnorteada”, explica a pneumologista e coordenadora do ambulatório de tabagismo do HJK, Clarissa Marina Biagioni Silveira.
Ao procurar o ambulatório de tabagismo, o paciente é orientado sobre técnicas e mudanças de comportamento que o auxiliarão a reduzir o consumo de cigarro. “Procuramos estimular esse fumante a adquirir novos hábitos e prazeres saudáveis, como tocar um instrumento, praticar uma atividade física, rever amigos. A nossa meta é mostrar que viver sem cigarro é possível. É ganhar em qualidade de vida”, conta Clarissa.
Desde o início deste semestre, o Hospital Psiquiátrico Galba Velloso (HGV), da Rede Fhemig, oferece, a pacientes e funcionários da unidade, um tratamento contra o cigarro, que faz parte do Programa para a Cessação do Tabagismo oferecido pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e o Ministério da Saúde (MS), em parceria com a Secretaria de Saúde (SES/MG).
A iniciativa teve origem em decorrência de uma pesquisa realizada há dois anos. Com o tema “Prevalência do tabagismo em um hospital publico psiquiátrico de Minas Gerais”, o trabalho realizou um levantamento dos usuários de tabaco no HGV (pacientes e funcionários) e um questionamento sobre o fumo, com perguntas sobre o nível de incômodo causado pela fumaça no ambiente e o desejo de parar de fumar, entre outras.
“Os resultados do levantamento demonstram uma prevalência de tabagismo no HGV de 55,13% entre pacientes e de 16,28% entre funcionários, chegando a uma média em torno de 23% no total. Taxa elevada em relação à população geral, que é de 14,8%, segundo o INCA”, explica Dagmar Fátima de Abreu, coordenadora de implantação do tratamento de tabagismo no HGV.
Há quem acredite que o cigarro pode funcionar como uma válvula de escape, diminuindo a ansiedade, o stress e a tensão do dia a dia. “Em algumas situações, o fumante pode estar sofrendo de um distúrbio psíquico, como depressão ou ansiedade, e o cigarro apenas mascara esses sintomas. É imprescindível procurar ajuda médica em vez de buscar um falso alívio no tabagismo”, ressalta Clarissa.
A auxiliar de apoio à pneumologia do HJK, Laura Nunes da Silva, passou por uma situação desse tipo. Fumou por 16 anos e conseguiu ficar um ano livre do cigarro. No entanto, com a morte de seu filho, acabou retornando ao vício. “Voltei a fumar, em excesso, como forma de alívio do sofrimento pelo qual estava passando”, revela. Há três meses, decidiu tentar novamente. “O que mais pesou na minha decisão de parar de fumar dessa vez foi o fato do fumante ser excluído de diversos ambientes, como restaurantes e shoppings. Até em casa, meus filhos não gostavam que eu fumasse por causa do cheiro”, diz.
Para ficar longe do cigarro, Laura tem usado apenas uma estratégia: força de vontade. Mas nem sempre isso é o bastante. A pneumologista Clarissa Silveira afirma que o fumante não deve ter vergonha de pedir ajuda. “Cada paciente tem uma história diferente. Nem sempre é possível abandonar o vício apenas com determinação. Por isso, quem deseja parar de fumar deve procurar ajuda médica. Uma boa dica é colocar no papel os benefícios e os malefícios do cigarro. Contabilizar os gastos em decorrência do vício também ajuda. Faça as contas de quanto gasta com maços de cigarro, antibióticos, urgência médica e cosméticos para tirar o cheiro. Você certamente ficará surpreso”, sugere. “Temos que pensar que o futuro chega rápido. Estamos envelhecendo. E o que queremos para a nossa vida? Qualidade de vida e bem-estar certamente não combinam com tabagismo”, finaliza.