Combinação perigosa. O período chuvoso e quente dessa época é perfeito para uma estatística nada agradável, o aumento do número de casos de ataques de animais peçonhentos. No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, unidade da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) que é referência estadual nesses casos, os atendimentos já cresceram na comparação com os meses anteriores. E a probabilidade é aumentar nos primeiros meses do ano.
Combinação perigosa. O período chuvoso e quente dessa época é perfeito para uma estatística nada agradável, o aumento do número de casos de ataques de animais peçonhentos. No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, unidade da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) que é referência estadual nesses casos, os atendimentos já cresceram na comparação com os meses anteriores. E a probabilidade é aumentar nos primeiros meses do ano.
Enquanto a soma de janeiro, fevereiro e março de 2008 dos casos de picadas de cobras, por exemplo, foi de 38 atendimentos, os meses mais secos, como junho, julho e agosto, o número registrado foi de 13 casos. “Esse aumento acontece nessa época de calor porque os animais ficam mais agitados e saem de seus habitats a procura de alimentos. Os temporais também deixam os bichos desalojados, o provoca maior contato com as pessoas e consequentemente maior número de acidentes, revela a toxicologista do HPS, Solange Magalhães. Com relação aos ataques de lagartas a diferença é bem maior. Nos três primeiros meses do ano passado foram 125 pacientes contra 17 nos mesmos três meses mais secos.
Entre os casos de acidentes por animais peçonhentos atendidos na unidade, o campeão é o escorpião. No ano passado foram registrados cerca de mil casos e, em 2007, esse número chegou a pouco mais de 800. “ Eles são os número 1 nesse tipo de atendimento no serviço de toxicologia”, reforça a médica. Na região sudeste do país o escorpião amarelo (titius serrulatus) é o mais comum, sendo frequentemente encontrado nos centros urbanos. “Os escorpiões se alimentam de baratas e insetos por isso um ambiente limpo ajuda a afastá-lo de casa”. São animais de hábitos noturnos, quando ficam mais ativos, e gostam de ficar em ambientes frios, úmidos, escuros como em madeiras e buracos em pedras.
A picada provoca dor intensa que se irradia pelo corpo provocando sensações de choques além de causar vômito. Em alguns casos provoca dificuldade respiratória e alterações no coração, como arritmia, e pode levar a morte. Geralmente, as crianças atacadas suam muito, ficando com as roupas molhadas e, em alguns casos, ainda apresentam quadro de sonolência ou agitação exagerados. E são as crianças, os idosos e os cardiopatas os grupos com maior risco de óbito e devem ser levados o mais rápido possível para uma unidade médica para os primeiros atendimentos. “Em 15 minutos o quadro pode se agravar e levar a um fim trágico”, destaca a toxicologista. João Victor Martins Macedo, de 5 anos, chegou no dia 23 de dezembro depois de ser picado por um escorpião no portão de casa. Mesmo usando chinelo o ferrão acabou atingindo o menino que, de acordo com a avó Maria Martins Santos, gritava muito de dor. João chegou a ser atendido no hospital de Itabira e depois encaminhado para o HPS onde chegou a passar 10 dias no CTI. “ Rezei muito e pedi para os médicos salvarem meu único neto”, declara a avó que hoje é só carinho com o pequeno João que, depois do susto, já está pronto para ganhar voltar para casa.
Nessa época de calor outro número que também chama a atenção é o de feridos por lagartas, em especial a lonomia obliqua, taturana ou lagarta considerada a mais venosa. De acordo com a médica, outro agravante é que elas normalmente se encontram-se em grupo (hábito gregário) nos troncos, o que aumenta seu potencial de veneno. “Quando a pessoa toca num pedaço de galho onde as lagartas estão acaba sendo atingido pelo veneno de várias taturanas”. A dor é intensa além de causar queimação. O veneno que fica nas cerdas que revestem a parte superior da lonomia podem afetar a coagulação causando hemorragias além de provocar insuficiência renal. “ O atendimento deve ser rápido para evitar complicações sérias ou até a morte”, avalia. Os ipês, mognos, mangueiras e árvores frutíferas em geral são o local ideal para a alimentação e proliferação das lagartas.
Entre os cuidados para evitar complicações com animais peçonhentos estão a atenção na hora de fazer a capina procurando usar sempre equipamentos de proteção como botas e luvas. No caso de um ataque de cobra, por exemplo, o uso desses materiais evita a inoculação do veneno. 60% a 70% dos ataques desse animais são do joelho pra baixo, daí o alerta para se usar botas mais altas. 20% das agressões estão concentradas nas mãos e braços. Caso seja atacado por uma cobra é recomendado lavar o local com água e sabão e não usar nenhum tipo de medicamento, pois, dependendo da espécie, o remédio pode trazer complicações no quadro clínico da vítima que deve ser levada imediatamente para um hospital ou local próximo onde haja o soro antiofídico. No caso dos escorpiões vale a atenção na hora de colocar um calçado além de tampar ralos impedindo a entrada desses animais dentro de casa. A limpeza do ambiente também é essencial para evitar espécies que servem de alimentos para eles. A Unidade de Toxicologia do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII possui dois números de telefone com atendimento diário e 24 horas para esclarecer as dúvidas nos primeiros atendimentos, o 3239-9308 ou 3224-4000. A unidade também integra Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica-Renaciat, possuindo um número telefone público 0800-722 6001.