Hospital Alberto Cavalcanti, referência estadual para o tratamento do câncer, recebe, em média, a cada ano, cerca de 500 pacientes portadoras do câncer do colo do útero. Muitos desses casos poderiam ter sido evitados com a adoção de medidas preventivas.
Devido às fortes dores que sentia ao urinar, a aposentada Geralda Pereira, de 67 anos, viajou mais de 580 km para, pela primeira vez em sua vida, realizar o exame de Papanicolau. Vinda da zona rural de Setubinha (Vale do Mucuri), Geralda nunca havia se consultado com um ginecologista. Diagnosticada com o câncer do colo do útero em estágio inicial, ela foi submetida, no Hospital Alberto Cavalcanti (da Rede Fhemig), a uma cirurgia para o tratamento do tumor. “Eu nunca fui ao ginecologista porque achava que não precisava. Depois de tudo que passei, digo para as minhas amigas para fazerem o exame”, conta a aposentada.
Segundo tipo de câncer mais comum em mulheres no mundo, o câncer do colo uterino é uma doença silenciosa cujos sintomas levam até dez anos para se manifestar, o que reforça a importância das ações preventivas. Até o final deste ano, somente no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), deve haver quase 16 mil novos casos. Nesse sentido, o exame de Papanicolau (quando bem feito, com coleta adequada) é a principal arma no combate à doença porque é capaz de mudar as taxas de incidência e de mortalidade. Se for realizado regularmente (em geral, durante a consulta ginecológica), é a melhor forma de prevenção. Além de ser um procedimento simples, o exame é altamente eficaz e representa um baixo investimento financeiro para o Sistema Único de Saúde (SUS).
O Ministério da Saúde recomenda que todas as mulheres com idade entre 25 e 64 anos façam o exame de Papanicolau. No entanto, a cultura da prevenção ainda está longe de ser incorporada ao cotidiano feminino. Referência estadual para o tratamento do câncer em Minas Gerais, o Hospital Alberto Cavalcanti (HAC) recebe, rotineiramente, mulheres entre 50 e 60 anos de idade, que não têm o hábito de fazer exames preventivos de forma regular, não apresentam sintomas agudos e são portadoras do câncer em vários estágios da doença. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, apenas nos dois últimos anos, foram atendidas no hospital quase mil pacientes.
O perfil da média das pacientes do HAC revela um quadro social em que as mulheres não dispõem de tempo para cuidarem da própria saúde, dado, em geral, ao caráter de dupla jornada a que estão submetidas em seu cotidiano, reforçado pela inexistência de uma cultura preventiva, o que constitui um círculo vicioso, no qual um fator reforça o outro, configurando-se, assim, um grave problema de saúde pública.
A história da camareira Sandra Lopes, de 41 anos, é ainda mais representativa do quanto a falta de informação sobre os cuidados preventivos pode comprometer a qualidade de vida das mulheres. Natural de Teófilo Otoni, Sandra vive há cinco anos em Belo Horizonte. Assim como Geralda Pereira, sua primeira consulta com um ginecologista aconteceu quando veio residir na capital. No segundo exame de Papanicolau, realizado este ano (quatro anos após o primeiro), ela teve o diagnóstico do câncer uterino com indicação cirúrgica. “Quando recebi a notícia, fiquei em silêncio, mas quando cheguei em casa, chorei muito. Tenho fé que a cirurgia vai correr bem. Daqui para frente, vou me cuidar mais”, promete.
A notícia da doença de Sandra causou, entre suas irmãs, primas e amigas, a procura generalizada por uma consulta ginecológica. A exemplo da camareira, suas familiares e amigas também não costumam realizar exames preventivos.
“É uma situação inaceitável, pois as formas estabelecidas de prevenção são capazes de evitar essa situação. O câncer do colo do útero tem uma taxa de incidência muito grande. Quando instalado, ele invade os órgãos próximos (bexiga e reto), causando a eliminação de urina e fezes pela vagina. Além disso, a doença apresenta uma mortalidade lenta e produz um sofrimento muito grande”, pondera o médico especialista em Oncologia Ginecológica do HAC Fernando Medeiros. Outro aspecto relevante do problema é o caráter estigmatizante do câncer uterino, devido ao fato dele ser adquirido através do contato sexual, colocando em questão vários tabus e ideias preconcebidas sobre a sexualidade da mulher.
O principal fator de risco para o desenvolvimento do tumor uterino é a infecção pelo papiloma vírus humano (HPV). Os outros fatores predisponentes são o grande número de parceiros sexuais; o uso de contraceptivos orais; a ocorrência de várias gravidezes; a iniciação precoce da vida sexual; o hábito do tabagismo; o baixo consumo de vitaminas; além da coinfecção por vírus como o da imunodeficiência humana (HIV) e o Chlamydia trachomatis, responsável pela transmissão da clamídia, doença adquirida através da relação sexual.
08/07/2019
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